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A morte de 17 pessoas - a maioria crianças - num incêndio em Paris na madrugada desta sexta-feira expôs de maneira trágica, pela segunda vez em poucos meses, as condições de vida precárias que muitas centenas de milhares de famílias pobres de imigrantes encontram no país. Numa das cidades mais visitadas do mundo e possivelmente a mais célebre, falta moradia para 300 mil pessoas. A opção que os mais pobres fazem é ocupar prédios e hotéis decrépitos.

Numa manifestação espontânea, centenas de pessoas reuniram-se na tarde desta sexta-feira para denunciar a precariedade com que os imigrantes são obrigados a viver, diante do edifício mal conservado que incendiou de madrugada. Entre os mortos, 14 eram crianças; e havia uma mulher grávida.

- Esse desastre terrível lança toda a França no luto - reagiu o presidente Jacques Chirac, enquanto a oposição começava a se queixar, ecoando insatisfações populares.

- Esse prédio estava em ruínas. Sabia que algo ia acontecer. Era perigoso - queixou-se Benita, moradora de um prédio vizinho.

O edifício que incendiou abrigava cerca de 30 adultos e uma centena de crianças.Martin Hirsch, do grupo Emmaus, que ajuda pessoas pobres sem abrigo, disse que famílias grandes estavam usando o prédio como acomodação temporária. Muitos eram de países africanos, como Mali, Senegal e Costa do Marfim. O incêndio começou numa das escadas pouco depois da meia-noite, quando a maioria dos moradores dormia.

No protesto, cerca de 300 pessoas, segundo a polícia, cantaram slogans contra o governo e pediram soluções para a carência de habitações para a população de baixa renda. Além do incêndio desta madrugada, o protesto lembrou os 24 imigrantes mortos num incidente semelhante, no centro de Paris, em abril - um dos incêndios mais graves da França em anos.

O protesto alimentou uma polêmica que emergiu poucas horas depois do incêndio desta madrugada, quando o prefeito de Paris, o socialista Bertrand Delanoe, queixou-se de que o governo conservador não havia dado atenção a suas demandas, depois do incidente de abril, de fazer frente às necessidades de realojamento urgente de populações menos favorecidas.

O presidente da Ile-de-France, o socialista Jean-Paul Huchon, entrou no debate, recordando que o déficit habitacional de Paris é de 300 mil residências.

O ministro do Emprego e Coesão Social, Jean-Louis Borloo, encarregado de visitar o local do incêndio, anunciou a criação de "pensões sociais", sobre as quais se tomarão decisões nos próximos dias.

Borloo ressaltou que o governo tornou a construção de habitações sociais uma de suas prioridades e lembrou um acordo com a Prefeitura de Paris para construção de 22.200 residências em seis anos para aluguel e 1.650 locais de alojamento emergencial. Em 2004, apenas 12 mil residências populares foram alocadas para famílias pobres.

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