
A Venezuela e o mundo se perguntam o que aconteceria ao país sem Hugo Chávez. A despeito das previsões otimistas dos oposicionistas ou catastróficas dos seus aliados, a grande questão é que Chávez não tem sucessores em potencial no seu partido e tampouco a oposição apresenta um nome forte para substituí-lo.
"Estou resolvido a chegar até 2031", proclamou Chávez sobre seu plano de permanência no poder em entrevista ao jornal Correio do Orinoco no final de julho, quando completou 57 anos. Mas as afirmações retóricas do presidente venezuelano que luta contra um câncer não representam qualquer garantia de que ele terá condições de concorrer as eleições no próximo ano e ficar no poder por mais 20 anos.
Os aliados de Chávez dizem que as elites estão se aproveitando da situação e exageram ao falar sobre o câncer do presidente e dizer que ele não tem condições de prosseguir no poder. Mas se a oposição estiver mesmo tentando usar essa estratégia não está tendo muito sucesso porque o índice de aprovação de Chávez segue sem alterações com a notícia da doença e se mantém em torno de 50%.
O fato é que, seja por meio de uma revolução, seja por uma doença ou por um processo eleitoral, um dia um mandatário deixa o poder. E é saudável para qualquer regime poder vislumbrar quem são seus prováveis sucessores.
"Todo mundo está pensando agora, pela primeira vez, o que será da Revolução sem Chávez: mais conservadora? Mais radical? De todas as formas será uma luta", diz George Ciccarielo-Maher, professor de Ciências Políticas da Universidade de Drexel, nos Estados Unidos, especialista em Venezuela.
A grande capacidade de liderança de Chávez que, segundo George Ciccarielo-Maher, representa as bases dos movimentos populares, cria dificuldades para que se destaquem outros líderes. "Chávez representa um ponto de concentração de forças e por isso tem sido difícil pensar em sucessores", explica o pesquisador que é autor do livro We Created Him: a Peoples History of the Bolivarian Revolution ("Nós o Criamos: uma História Popular da Revolução Bolivariana", em tradução livre).
Liderança concentrada
A expressão hiperliderazgo, utilizada em espanhol para designar a concentração do poder ou da liderança com uma única pessoa, tem sido bastante lembrada por intelectuais venezuelanos e observadores do governo. "Há um ponto fraco no país que é a conversão do líder do processo em uma figura quase messiânica", explica o cientista político da Universidade Central da Venezuela Nicmer Evans.
Mas não apenas os partidários de Hugo Chávez concentram todas as atenções no presidente. De acordo com Evans, "é uma problema de cultura política venezuelana". O cientista político analisa que até a oposição se preocupa mais em derrubar Chávez do que em desenvolver plataformas sólidas com novas alternativas para o país.
"A Venezuela clama e necessita de uma oposição séria. E lamentavelmente não tem", avalia Evans que considera desarticulados os partidos rivais do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela, sigla de Chávez) e que seguem apenas uma lógica eleitoral.
Futuro incerto
Sem nomes fortes para substituir Chávez, o momento em que ele deixar o poder pode ser turbulento. "Se os chavistas perderem o governo, há um risco contundente de guerra civil", diz Ciccarielo-Maher.
Na opinião de Evans, o que pode derrubar Chávez não é o câncer, nem a oposição, mas ele mesmo. "O presidente é muito bem visto pela população. É carismático, conversador e popular. Em contraposição, há ineficácias do governo e da administração pública".
O cientista político explica que Chávez luta contra ele mesmo e suas propostas. "Fala-se de um projeto revolucionário, rumo ao socialismo e se conserva uma estrutura de estado pequeno-burguesa, criada por novas oligarquias".