A União Europeia está apreensiva. Precisa ajudar os países que estão se quebrando com o endividamento, tentar manter uma moeda estável e respeitar seus próprios termos de compromisso, como a não ingerência na política dos países membros.No primeiro semestre de 2010, a Grécia deu início aos pedidos de socorro ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Central Europeu (BCE). Em novembro do ano passado foi a vez da Irlanda pedir ajuda ao FMI. Em março desse ano, Portugal assumiu que precisaria de um empréstimo. A Espanha vem implementando medidas de austeridade para resistir à crise e, essa semana, a Itália teve de assumir que está com endividamento excessivo e aprovou um duro pacote de corte nos gastos.A crise de 2008, gerada pelos problemas hipotecários nos Estados Unidos e a quebra do Lehman Brothers, mal passou e suas consequências se alastram pela Europa com uma nova crise. "A atual crise tem a ver com processos de expansão baseados em endividamentos", explica o professor de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, André Cunha. Os países europeus também reduziram os impostos para estimular a economia. Para o professor da UFRGS. "Não existe capitalismo sem endividamento. A dívida é a base do sistema".
O problema é que "os PIIGS (iniciais em inglês de Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha) já estavam com o endividamento elevado antes da crise de 2008", lembra a professora de Economia do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba), Cintia Rubim.
Irresponsabilidade
O professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Másimo Della Justina, considera que há outros motivos para que a crise, especialmente no sul da Europa, chegue a níveis tão elevados. "Esses países têm como tradição irresponsabilidade e falta de seriedade com as dividas e também o esbanjamento e a falta de transparência".
Quatro critérios seriam utilizados para os países que quisessem adotar o euro: o déficit orçamentário em relação ao PIB não poderia passar de 3% ao ano, a dívida pública acumulada não poderia estar acima de 60%, as taxas de câmbio e as taxas de juros teriam que estar de acordo com o indicado pela União Europeia.
Quando chegou a hora de o euro entrar em vigor, os PIIGS não se ajustavam em todos esses critérios. Mesmo assim, "entraram na última hora para não estragar a festa", diz o professor da PUC-PR. "Se a UE tivesse sido muito séria esses países não poderiam adotar o Euro na época em que adotaram. Deveriam ter tido mais coragem de não deixar entrar quem não estava preparado."
Outro desafio do euro é que se trata de uma "moeda única, mas que não tem autoridade fiscal única", ressalta Cunha. O Banco Central Europeu é autoridade monetária, mas não fiscal. Essa situação torna difícil administrar as consequências que as decisões tomadas em cada um dos países têm sobre a moeda.
"É difícil ter a mesma responsabilidade quando partidos diferentes governam", observa Della Justina. O professor da PUC-PR reconhece que os países podem perder a autonomia fiscal caso se crie uma autoridade única, mas, no ponto de vista, essa é uma medida importante para a sobrevivência do euro.
Saídas
A fim de evitar que crise se alastre por toda a Europa, alguns mais pessimistas declaram o fim do euro, outros acham que aqueles que estão em crise é que devem deixar a moeda. "Os países que foram irresponsáveis deveriam ser desconvidados a participar do euro", diz Della Justina.
Já a professora Cintia ainda acredita na negociação. "Apesar de analistas pessimistas, é questão de ajustar o problema das dívidas e decidir quem vai pagar as contas". Cunha considera que se os países em crise saíssem e deixassem de adotar a moeda essa não seria a solução. "Independente do euro, a região tem economias muito abertas, isso cria canais de contágio. Há um enorme grau de vinculação econômica e comercial."
A alternativa da moratória também já está sendo considerada, principalmente pelos gregos. Mas, para a professora do Unicuritiba, "um calote poderia gerar uma crise de confiança e corrida dos investidores internacionais aos bancos".
Para que a população não continue sendo o mais prejudicada no fim das contas, Della Justina considera que os governos também não podem mais cobrir rombos dos bancos. "Tem que deixar quebrar, como em 1929. A dor é maior, mas é mais rápido."
Cunha avalia que muitos europeus vão ter que abrir mão do conforto com que se acostumaram, das conquistas sociais, como altos salários e planos de previdência generosos. A era de altos investimentos em infraestrutura vai ser trocada pela deterioração dos países. "Foi um banquete em que se comeu muito, agora, estão passando mal", diz.