O cientista Brandon Farley, de 38 anos, dirigiu por cerca de uma hora na noite de sábado para participar do comício de Hillary Clinton em Portsmouth, New Hampshire. Indeciso entre ela e seu concorrente, o senador Bernie Sanders, ele resolveu tentar sanar suas dúvidas ouvindo diretamente os postulantes do Partido Democrata na disputa pela vaga para concorrer à Casa Branca na eleição de novembro. Com as primárias de terça-feira, todos os pré-candidatos dos dois partidos fazem uma maratona de eventos no estado, favorecendo o contato direto com os eleitores.
“Quando ouço Sanders, acredito no que diz, mas acho que ele tem menos chances de vencer. Por outro lado, tenho uma dúvida sobre Hillary Clinton que... não sei qual é! Quero ouvi-la pessoalmente e assim ter ajuda para escolher”, afirmou Farley.
Sua postura não é isolada: grande parte das pessoas que lotam os eventos partidários nesta reta final da campanha no estado só decidirão seus votos em cima da hora. As eleições são assunto tão popular na região como o Super Bowl, a final de futebol americano que parou o país no fim da tarde deste domingo. Os bares do estado, por exemplo, dedicaram no sábado à noite algumas de suas TVs, que sempre exibem esportes, ao debate dos pré-candidatos republicanos, transmitido ao vivo de Manchester, maior cidade do estado.
“Não dá para ouvir muito com este barulho, mas a gente também não fica totalmente isolado. Se rolarem muitas vaias ou aplausos, nós vamos perceber e daí poderemos ver os momentos mais importantes”, afirmou Anne Green, que dividia uma mesa com outros cinco amigos e se dizia indecisa entre os republicanos, principalmente John Kasich, Chris Christie e Marco Rubio.
Filas em temperaturas congelantes
Mas os ambientes preferidos de verdade entre os indecisos são os comícios e encontros com candidatos. A maior parte dos eventos dos postulantes de ambos os partidos lota e, quase sempre, pessoas ficam de fora. Alguns chegam a esperar uma hora e meia para entrar numa escola ou num ginásio – locais preferidos dos políticos – com a temperatura abaixo de zero. Mas acreditam que vale o sacrifício.
“Estou na dúvida entre Ted Cruz e Marco Rubio, e resolvi ouvir Rubio para definir. Minha tendência é votar nele, depende do que ele falar nesta reta final. Gosto que, mesmo sendo da oposição, Rubio tem um discurso otimista, pra frente, não fica pintando um quadro ruim. Um presidente precisa ser um motivador do país”, afirmou Bill Lafferty, de 45 anos, que até os anos 1990 votava nos democratas, mas virou republicano por ser contrário ao aumento do tamanho do Estado proposto pelos partidários do presidente Barack Obama. “Se você jogar uma bola de neve na parede, virá um democrata querendo criar um imposto sobre o arremesso.”
Esta mudança de postura política é comum em New Hampshire, que a cada eleição tende a uma legenda diferente. Isso faz com que os eleitores acompanhem mais os dois partidos, ao contrário do que ocorre em outros estados, onde nesta fase da campanha os eleitores dedicam mais tempo a debater as posições dos postulantes de sua agremiação preferida.
“Vim acompanhar o evento de Hillary Clinton para saber o que ela pensa. Mas, na verdade, estou em dúvida entre Ted Cruz, Marco Rubio e Donald Trump”, afirmou David Connethon, que encarou uma hora de fila a 3 graus negativos para assistir ao evento da democrata.
Sua mulher, Cath, votará em Cruz ou em Rubio. “Mas em Trump eu não voto, de jeito nenhum!”, disse.
A participação política é uma tradição no estado. Cartazes nas igrejas pediam que a população local, que não chega a 1,5 milhão de pessoas, vá às urnas. Rádios e TVs cobrem detalhadamente todos os detalhes dos candidatos, e é comum encontrar pessoas que sabem de cabeça os eventos políticos que ocorrerão.
E esta característica tende a continuar. Vince Jackson, de 45 anos, levou o filho adolescente, Garrit, de 16 anos, para o café da manhã de Marco Rubio em Bedford.
“Ele não vota ainda, mas já está aprendendo a importância da participação política, de vir acompanhar os candidatos pessoalmente, não apenas pela TV ou redes sociais”, disse Vince, indeciso entre os vários candidatos republicanos. “Claro que meu pai me fez acordar cedo neste frio domingo (risos), mas não acho ruim vir debater política”, afirmou Garrit.
Erika Shoemaker teve que correr com o almoço de seus três filhos – o mais velho tem 9 anos – para participar do encontro que Kasich marcou com eleitores em Nashua, no Sul do estado. “Poderia tê-los deixado com minha mãe, mas acho que eles têm que participar. Isso vai mudar o futuro deles. Precisam aprender que têm responsabilidade sobre o futuro deste país.”
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