A Índia proibiu a exibição de um documentário sobre o caso do estupro coletivo que levou à morte de uma estudante em 2012. No filme, um dos condenados pelo crime aparece culpando sua vítima. Atendendo à denúncia apresentada pela polícia, um tribunal de Nova Déli emitiu na noite de terça-feira (3) uma ordem proibindo as emissoras de TV de transmitir o documentário “India’s Daughter” (Filha da Índia, em tradução livre). O tribunal considerou que o filme contém declarações que podem “criar tensões e problemas de ordem pública”.
O filme aborda as consequências do episódio e inclui uma entrevista com Mukesh Singh, um dos condenados à morte pelo crime. “Quando está sendo estuprada, [a mulher] não deve lutar. Ela deve apenas ficar em silêncio e permitir o estupro”, diz Singh em um trecho do documentário. “As garotas são muito mais responsáveis pelo estupro do que garotos”, adiciona.
Em uma discussão no parlamento nesta quarta-feira (4), o ministro do Interior da Índia, Rajnath Singh, condenou o filme. “Percebeu-se que o documentário traz comentários do condenado que são altamente depreciativos e são uma afronta à dignidade das mulheres”, afirmou o ministro.
Rajnath Singh disse que vai investigar os produtores do filme por violarem normas de permissão ao não mostrarem às autoridades do sistema carcerário a gravação completa da entrevista com o agressor. A produção diz que houve permissão para a entrevista.
Ativistas pelos direitos das mulheres também fizeram críticas ao documentário. “Por que dar voz às ideias de um estuprador?” questionou a ativista indiana Vrinda Adiga. “[O documentário] é intolerável para mulheres como eu, que lutamos contra a misoginia a cada dia”, escreveu a diretora do Centro de Pesquisa Social de Nova Déli, Ranjana Kumari, em sua conta no Twitter.
A britânica Leslee Udwin, diretora do documentário, afirmou estar “profundamente magoada” pela decisão e acusou as autoridades indianas de “silenciarem” o filme. A diretora, que é vítima de um estupro, disse que a obra é “uma séria campanha pelo interesse público”. A estreia de “India’s Daughter” está programada para o domingo (8) em virtude do Dia Internacional da Mulher.
Proibido na Índia, ele será exibido em outros sete países. O estupro e a morte da jovem, em 2012, provocou comoção mundial e protestos por justiça na Índia, forçando o governo a endurecer as penas por crimes sexuais. Singh foi condenado à morte pelo crime junto a outros três acusados. Outro deles, menor de idade, foi condenado a três anos em um centro específico e um sexto apareceu morto em sua cela.
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