A Índia vem pagando caro por seu envolvimento no Afeganistão. A embaixada indiana foi atacada à bomba em 2008 e novamente no ano passado, num atentado que deixou 75 mortos. Seis indianos foram mortos por insurgentes durante a construção de uma rodovia financiada pela Índia.Tanto a Índia quanto o Paquistão disseram que os ataques contra a embaixada foram conduzidos por insurgentes aliados à ISI (agência de espionagem paquistanesa).
Os paquistaneses "estão trazendo a guerra por procuração para o Afeganistão e nós somos os alvos", disse Jayant Prasad, embaixador da Índia no Afeganistão.
É uma acusação que o Paquistão nega com raiva. "A Índia sempre usou o Afeganistão contra nós", disse Sadiq, o embaixador paquistanês.
Karzai fez pouco segredo sobre sua preferência pela Índia. O presidente, que foi educado na Índia, recebeu de braços abertos a ajuda oferecida por Nova Délhi, enquanto raramente menciona a ajuda paquistanesa.
Outros funcionários afegãos pouco escondem sua desconfiança com o Paquistão. "(O Paquistão quer) um Estado fantoche em Cabul, um governo subserviente", disse Muradian, assessor do Ministério do Exterior afegão. "A Índia quer um Afeganistão estável e pluralista."
Certamente, a Índia tem feito um jogo diplomático pesado no Afeganistão. Mesmo os aliados da Índia dizem que Nova Délhi tem uma ampla presença no Afeganistão através da sua agência de inteligência, a Research and Analyses Wing (RAW, na sigla em inglês).
Segundo o Paquistão, muitos desses agentes da RAW providenciam apoio aos militantes separatistas da província paquistanesa do Baluquistão uma acusação que a Índia nega.
A realidade permanece obscura. O Paquistão mantém o acesso ao Baluquistão fechado aos estrangeiros. Diplomatas ocidentais, falando sob a condição de anonimato, dizem que acredita-se que a inteligência indiana deve estar em contato com os separatistas do Baluquistão, embora não seja claro que tipo de apoio eles forneçam.
A Índia também mantém suas antigas ligações com os senhores afegãos da guerra, para o caso de o Afeganistão ser novamente dividido pela violência. Durante anos, Nova Délhi deu apoio aos líderes da Aliança do Norte, uma coleção de milícias étnicas que lutava contra o Taleban (e frequentemente entre si). O governo indiano fornecia alimentos, assistência médica e informações de inteligência.
Mais tarde, a Aliança ajudou os EUA a derrotar o Taleban em 2001 e os senhores da guerra foram para o governo ou para a comunidade empresarial do Afeganistão ou então para a criminalidade ou para o exílio. Mas a Índia permaneceu em contato com uma série de líderes de milícias, dizem fontes que mantêm contatos com círculos diplomáticos de Nova Délhi.
A Índia alerta que poderia formar uma aliança com o Irã algo que enfureceria Washington se o Taleban parecer propenso a voltar ao poder. A "aliança em interesse próprio" poderia incluir a Rússia e vários países centro asiáticos, que também temem a volta do Taleban, de acordo com um diplomata indiano com conhecimento das manobras diplomáticas. Por enquanto, o projeto indiano para conquistar corações e mentes está a pleno vapor.
Poeirenta e pobre
Na poeirenta cidade de Mazar-i-Sharif, no norte afegão, três médicos indianos trabalham numa clínica, onde fazem cirurgias e dão consultas num hospital da era colonial que de alguma maneira escapou das destruições das guerras.
Toda manhã, muitas mulheres vestidas com burcas se enfileiram na frente da clínica, enquanto os homens esperam no local do estacionamento. Eles são as pessoas mais pobres num dos países mais pobres do mundo: viúvas, desempregados, idosos. Eles medem a distância da clínica pelo custo para chegar nela e uma passagem que custa dez centavos é um investimento sofrido.