Pessoas passam pelo Parlamento do Reino Unido em Londres, 09 de agosto de 2022.| Foto: EFE/EPA/ANDY RAIN
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O Reino Unido vive o pior cenário econômico dos últimos 50 anos. Ao mesmo tempo, o contexto político gera instabilidade e dificulta a recuperação britânica. O isolamento devido ao Brexit - a saída da União Europeia – com falta de caminhoneiros e outros profissionais devido ao fechamento de portas a trabalhadores imigrantes, junto com as consequências da pandemia e os conflitos que levaram à renúncia de Boris Johnson carregam o Reino Unido para a atípica situação de incerteza em relação ao futuro da nação insular. 
 
Autoridades do serviço nacional de saúde (NHS, na sigla em inglês) alertaram para o risco de empobrecimento da população e de uma crise humanitária. De acordo com a End Fuel Poverty Coalition, cerca de 10,5 milhões de famílias entrarão em “nível de pobreza” até o começo do ano que vem no Reino Unido. O governo britânico define como “pobreza” quando a renda familiar anual é inferior a 60% da média salarial do país, que foi de 31 mil libras anuais (cerca de 187 mil reais) em 2021, segundo estatísticas oficiais.

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Ao mesmo tempo, o banco dinamarquês Saxo anunciou que os britânicos podem regredir ao status de "mercado emergente". O diretor de análises da instituição, Christopher Dembik, anunciou, no começo deste mês, que o Reino Unido poderá entrar em recessão no último trimestre de 2022. Essa situação poderá durar, segundo ele, cinco outros trimestres e fazer com que o PIB da nação caia cerca de 2,1%.  
 
Apesar da crise econômica não ser um problema apenas local, o Reino Unido tem os piores índices entre os sete países mais ricos do mundo (do G7). A taxa de inflação anual está acima de 10% e um pico de 13% é esperado em outubro, segundo o Banco da Inglaterra. Já o banco americano Citi prevê que, em 2023, a inflação britânica chegará a 18%. 
 
A dívida do Reino Unido, que passou de dois trilhões de libras esterlinas (mais de 12 trilhões de reais) na pandemia, pode mais do que triplicar se o governo não segurar a política fiscal e chegar perto de 320% do PIB em 50 anos, conforme alerta da Receita e Alfândega de Sua Majestade (HMRC, na sigla em inglês).


O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que os britânicos terão o menor crescimento entre os sete países mais ricos em 2023. No bolso dos mais de 67 milhões de habitantes, a situação já está pesando. Cortes de gastos e mudança no estilo de vida se tornaram realidade da maioria das famílias e devem atingir mais de 20% delas no começo do ano que vem.

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Desde os anos 1990, os países da ilha não vivenciavam protestos sociais tão fortes. Existe um movimento de greve do pagamento de faturas de energia chamado "Don't pay UK" ("Não pague o Reino Unido"), após as altas decorrentes da crise energética, que podem chegar a até 87% em outubro, segundo a consultoria Auxilione.  
 
Ao mesmo tempo, quase dois mil membros do sindicato Unite - operadores de guindastes, máquinas e estivadores - decidiram no domingo (21) parar por oito dias os trabalhos no porto de Felixtowe, o mais movimentado da Grã Bretanha e responsável por 48% dos movimentos de contêineres dos países da ilha. 
 
Funcionários de metrôs, trens, ônibus e universidades também já cruzaram os braços pedindo mudança salarial diante da queda de pelo menos 3% no poder de compra. "Queremos apenas um aumento que acompanhe o custo de vida, para que possamos comprar em 2022 o que poderíamos comprar em 2021", disse Mick Whelan, secretário-geral do sindicato Aslef, que representa 21 mil maquinistas, durante a greve do começo do mês, em entrevista coletiva. 
 
"As pessoas estão em situações financeiras delicadas. Vejo muito desespero", desabafou Steve Garelick, representante do maior sindicato do Reino Unido, o GMB Union, durante protestos de trabalhadores da Amazon de Tilbury, a leste de Londres. "É o verão do descontentamento", completou, usando um termo que faz referência ao "inverno do descontentamento", de 1979, quando a Inglaterra teve paralisação generalizada: desde operários de fábricas a coletores de lixo e coveiros.

Disputa ao cargo de premiê traz pouca esperança 

O cenário deve mudar pouco com a eleição de um substituto a Johnson no próximo dia 5. Dois candidatos disputam votos: a favorita nas pesquisas e atual ministra de Assuntos Exteriores, Liz Truss, e o ex-chanceler do Tesouro Rishi Sunak. Nas últimas semanas, Truss atacou os trabalhadores em greve, destacando que "os britânicos precisam trabalhar mais". 
 
Em entrevista ao tabloide The Sun no domingo, Truss não apresentou propostas concretas para combater a inflação. "Ouvimos com muita frequência que vai haver uma recessão. Não acredito que isso seja inevitável. Podemos gerar oportunidades aqui no Reino Unido", comentou a candidata. 
 
A primeira ação, segundo ela, seria cortar impostos, uma alternativa criticada pelo adversário Sunak. Ele propõe uma ajuda financeira direta à população sem, no entanto, descrever como seria possível fazer isso no atual cenário econômico. 
 
Quem ocupar a cadeira de primeiro-ministro não terá muita margem de manobra para compensar o impacto do aumento de preços na energia e nos alimentos. E qualquer movimento poderá pesar ainda mais no bolso da população.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]