Há um ano, um litro de leite longa vida integral custava em torno de 30 bolívares na Venezuela. Hoje, é vendido a 90 bolívares. No mesmo período, um quilo de “carne especial” passou de 350 para 700 bolívares. Embora o Banco Central (BC) tenha deixado no final de 2014 de divulgar suas estatísticas oficiais sobre inflação, uma certeza se instalou no país: a chegada da hiperinflação, que, neste ano, segundo projeções privadas, poderá superar 120%.
Nesta semana, o descontrole foi admitido pelo ex-ministro do Planejamento Jorge Giordani, um dos arquitetos da economia do ex-presidente Hugo Chávez. Giordani deixou clara sua divergência com a política econômica do presidente Nicolás Maduro. “Não existe direção. Como vierem as coisas, vamos vendo”, disse.
“Tecnicamente, já estamos vivendo uma hiperinflação”, comentou o economista Orlando Ochoa. “Quando a taxa de aumento de preços superou 100%, no final do ano passado, o governo deixou de publicar os dados. Para Maduro, o calendário eleitoral é mais importante do que resolver a crise”, lamentou Ochoa, em referência ao pleito legislativo deste ano, ainda sem data marcada.
Ochoa avalia que os problemas começaram em 2005, quando Chávez pediu autorização para utilizar as reservas do Banco Central para “financiar seu projeto de poder”. Foi o início, segundo ele, “de uma política monetária de emissão de moeda sem controle, que acelerou o aumento de preços”. “Muito depois chegou a queda do petróleo. Mas esse foi o golpe final, não a origem da crise”, comentou.
Para o economista Ricardo Hausman, professor na Universidade de Harvard, nos EUA, 2015 será o ano mais difícil na vida dos venezuelanos. “Todos os países passam por momentos em que se metem em problemas. Mas poucos países se metem nesses problemas com a total incompetência, insensatez e doença mental com que está operando este governo”, atacou.
Segundo dados da Universidade Católica da Venezuela, nos últimos 12 meses a inflação acumulada atingiu 120%. “O BC não publica mais a inflação porque não quer assumir a hiperinflação”, disse Luis Pedro España, diretor do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais da universidade.
De acordo com o instituto, 52% dos venezuelanos vivem abaixo da linha da pobreza. “Tudo o que o chavismo conseguiu em termos sociais se esfumou, porque não eram melhoras sustentáveis“, afirmou España.