O presidente dos EUA, Donald Trump, disse que a responsabilidade pelas recentes quedas no mercado de ações e pelo fechamento de montadoras e demissões da General Motors é do Federal Reserve, o banco central americano, esquivando-se de qualquer responsabilidade pessoal por rachaduras na economia e declarando que “não está nem um pouquinho feliz” com o presidente do Banco Central que foi escolhido por ele a dedo.
Em uma abrangente – e por vezes discordante – entrevista de 20 minutos com o jornal Washington Post, Trump reclamou longamente sobre o presidente do Fed, Jerome “Jay” Powell, indicado por ele no início deste ano. Ele argumentou que o aumento das taxas de juros e outras políticas do Fed estavam prejudicando a economia – como evidenciado pelo anúncio da GM nesta semana de que estava demitindo 15% de sua força de trabalho –, mas ele insistiu que não está preocupado com uma recessão.
“Estou fazendo negócios e não estou sendo acomodado pelo Fed”, disse Trump.
“Eles estão cometendo um erro porque eu tenho uma intuição, e às vezes a minha intuição me diz mais do que qualquer outra pessoa pode me dizer”.
Ele acrescentou:
“Até agora, eu não estou nem um pouco feliz com a minha seleção de Jay. Nem mesmo um pouquinho. E eu não estou culpando ninguém, mas estou apenas dizendo que eu acho que o Fed está muito equivocado com o que eles estão fazendo”.
Mudanças climáticas
Trump também descartou o relatório do governo federal, divulgado na semana passada, que constatou que os danos do aquecimento global estão se intensificando em todo o país. O presidente disse que não vê a mudança climática como provocada pelo homem e que ele não acredita no consenso científico.
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“Um dos problemas de muitas pessoas como eu é que temos níveis muito altos de inteligência, mas não necessariamente somos muito crentes”, disse Trump.
“Você olha para o nosso ar e nossa água, e eles estão agora limpos como nunca”.
O presidente acrescentou sobre mudanças climáticas:
“Se é ou não algo causado pelo homem e se os efeitos sobre os quais você está falando existem ou não, eu não vejo isso”.
Os comentários foram os mais extensos de Trump sobre por que ele discorda da grave Avaliação Nacional do Clima divulgada por seu próprio governo na sexta-feira, que descobriu que as mudanças climáticas representam uma séria ameaça à segurança da saúde e da saúde financeira dos americanos, bem como à infraestrutura e aos recursos naturais do país.
Reunião com Putin
Sentado à sua mesa no Salão Oval, Trump também ameaçou cancelar sua reunião marcada com o presidente russo, Vladimir Putin, na cúpula global do G20 nesta semana por causa do embate marítimo da Rússia com a Ucrânia. Ele disse estar aguardando um “relatório completo” de sua equipe de segurança nacional sobre a captura de três navios da Marinha ucraniana e suas tripulações no Mar Negro no domingo.
“Isso será muito determinante”, disse Trump.
“Talvez eu não tenha a reunião. Talvez eu nem sequer tenha a reunião... Eu não gosto dessa agressão. Eu não quero essa agressão de maneira nenhuma”.
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Caso Khashoggi
Trump questionou novamente a avaliação da CIA de que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita ordenou o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, e disse que considerou as repetidas negativas do príncipe em sua decisão de manter uma aliança próxima com o reino rico em petróleo.
“Talvez ele tenha feito isso e talvez não tenha”, disse Trump. “Mas ele nega. E as pessoas ao seu redor negam isso. E a CIA não disse afirmativamente que ele fez isso, a propósito. Eu não estou dizendo que eles estão dizendo que ele não fez isso, mas eles não disseram afirmativamente”.
A CIA avaliou que Mohammed bin Salman, conhecido como MBS, ordenou a morte de Khashoggi, e compartilhou suas conclusões com legisladores e a Casa Branca, segundo pessoas a par do assunto. As avaliações de inteligência são raramente, ou nunca, inflexíveis, e Trump enfatizou repetidamente que não há provas que irrefutavelmente colocam a culpa em MBS.
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Mas a CIA baseou sua avaliação geral do papel de Mohammed em várias evidências convincentes, incluindo comunicações interceptadas, vigilância de dentro do Consulado Saudita em Istambul, onde Khashoggi foi morto em outubro e na análise da agência sobre o controle total de MBS sobre o governo saudita.
Interferência russa
Enquanto isso, Trump disse que ele “não teve intenção” de tomar medidas para impedir a investigação do promotor especial Robert Mueller sobre a interferência da Rússia na eleição de 2016.
“A investigação de Mueller é o que é. Ela continua”, disse Trump. Quando pressionado se ele iria se comprometer a deixar a investigação continuar até a sua conclusão, ele parou logo antes de fazer uma promessa explícita.
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“Esta pergunta tem sido feita para mim por quase dois anos”, disse o presidente, quando a conselheira Kellyanne Conway entrou na conversa: “Mil vezes”.
Trump continuou:
“E, enquanto isso, ele ainda está lá. Ele não teria que estar, mas ele ainda está lá, então eu não tenho intenção de fazer nada”.
O presidente se recusou a discutir a acusação da equipe de Mueller na segunda-feira de que o ex-gerente da campanha de Trump, Paul Manafort, havia violado seu acordo de delação ao mentir repetidamente aos investigadores.
Tropas americanas
Trump também debateu a ideia de remover as tropas norte-americanas do Oriente Médio, citando o preço mais baixo do petróleo como uma razão para a retirada.
“Vamos ficar nessa parte do mundo? Uma razão para isso é Israel”, disse Trump.
“O petróleo está se tornando cada vez menos uma razão porque estamos produzindo mais petróleo agora do que já produzimos. Então, de repente, chega a um ponto em que você não precisa ficar lá”.
Trump também considerou o assassinato de três soldados dos EUA em uma explosão em uma estrada no Afeganistão nesta semana “muito triste”. Ele disse que está mantendo a presença militar no Afeganistão apenas porque “especialistas” disseram que os Estados Unidos precisavam continuar lutando lá.
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O presidente disse que estava considerando visitar as tropas na região em breve, talvez antes do Natal.
“No momento certo eu vou”, Trump disse sobre uma visita à zona de guerra, que seria a sua primeira como presidente.
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