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Inteligência da Alemanha resgata passado nazista de agentes na América Latina

Uma das 116 fotografias raras da SS que estão no Museu e Memorial do Holocausto, nos Estados Unidos. No centro da imagem, o médico Josef Mengele, um dos criminosos de guerra mais procurados da História | United States Holocaust Memorial Museum/Divulgação
Uma das 116 fotografias raras da SS que estão no Museu e Memorial do Holocausto, nos Estados Unidos. No centro da imagem, o médico Josef Mengele, um dos criminosos de guerra mais procurados da História (Foto: United States Holocaust Memorial Museum/Divulgação)
Um acordeonista embala uma homenagem aos simpatizantes de Hitler do lado de fora de Auschwitz |

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Um acordeonista embala uma homenagem aos simpatizantes de Hitler do lado de fora de Auschwitz

A decisão do serviço secreto alemão de abordar de forma transparente o passado nazista da inteligência na Alemanha Ocidental volta a dirigir os olhares para a América Latina, refúgio de alguns dos criminosos mais procurados do Terceiro Reich.

A recente criação de uma co­­missão formada por quatro historiadores para estudar o passado nazista do serviço secreto alemão, o BND, refletem a vontade de seu presidente, Ernst Uhr­­lau, de resgatar o prestígio da espionagem alemã após a Se­­gunda Guerra Mundial.

Os arquivos de espionagem confirmam que os serviços secretos ocultaram o paradeiro de muitos criminosos nazistas foragidos da Justiça para transformá-los em possíveis agentes.

A revista Der Spiegel publicou recentemente que Walther Rauff, coordenador de unidades móveis de câmaras de gás desenvolvidas por ele mesmo, colaborou com o BND quando residia no Chile, en­­tre 1958 e 1962, para espionar o líder cubano Fidel Castro. Apesar de conhecer perfeitamente o passado de Rauff, acusado pela Justiça alemã da morte de 98 mil prisioneiros durante o nazismo, a agência de espionagem não hesitou em contratar seus serviços.

Rauff, que se estabeleceu co­­mo empresário no Chile após uma temporada na Síria e Equa­­dor, foi preso em 1962 por solicitação da Alemanha. Porém, o processo acabou arquivado porque a Justiça do Chile, onde ele morreu em 1984, considerou que seus crimes tinham prescrito.

Já Klaus Barbie, conhecido como "O Açougueiro de Lyon" e chefe da Gestapo na França ocupada, foi recrutado pela inteligência alemã-ocidental em 1966 na Bolívia, onde morava desde 1951.

O BND, que então ampliava internacionalmente sua rede de agentes, seguia atentamente os acontecimentos políticos na Bolívia, te­­mendo que o país sofresse influência soviética, como Cuba.

Procurado pelo BND por sua "ideologia alemã" e seu "anticomunismo", Barbie elaborou pa­­ra os serviços secretos 35 relatórios, cujo conteúdo ainda é des­­conhecido.

No entanto, sabe-se que poucas semanas após seu recrutamento, Barbie assumiu a representação de uma empresa alemã de venda de excedentes de armamento do Exército. O posto ocupado dava chance de o agen­­te informar quanto os bolivianos gastavam em armas e munição.

Por considerar perigoso esse vínculo, o BND rompeu com seu colaborador no fim de 1967. Em 1983, Barbie foi expulso da Bolívia e entregue à França.

O "Açougueiro de Lyon" morreu em 1991 de leucemia em uma penitenciária francesa, onde cumpria pri­­são perpétua.

Brasil

Um dos fugitivos nazistas mais procurados, Josef Mengele, conhecido como "Anjo da Morte" por seus experimentos com prisioneiros no campo de extermínio de Auschwitz, viveu seus últimos dias no Brasil, depois de passar por Argentina e Paraguai.

Além das especulações sobre a colaboração de Mengele com a inteligência alemã, os últimos documentos revelados mostram que ele não só não cooperou com o BND, como também foi ajudado pelo organismo para iniciar sua fuga. Em 1961, o serviço secreto alemão já sabia de sua residência no Brasil – onde morreu em 1979 –, mas nunca demonstrou interesse em prendê-lo. Em 1972, o BND informou ao governo que desconhecia "onde ele poderia es­­tar" e "se ainda permanecia vivo".

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