PARIS - A internação do presidente da França, Jacques Chirac, de 72 anos, está despertando especulações sobre seu estado de saúde e suscitou críticas de políticos e analistas sobre o segredo mantido em torno da doença dele.
O gabinete de Chirac anunciou no sábado que o presidente havia sido internado horas antes devido a um "acidente vascular" que afetou sua visão e provocou uma enxaqueca.
Desde então, informações sobre a saúde de Chirac continuavam vagas. O boletim médico mais recente não esclarecia seu estado, nem informava sobre os tratamentos realizados.
"Junto ao código para o uso de armas nucleares, a saúde do chefe de Estado é o segredo mais bem guardado da República", provocou o jornal "Libération".
Analistas dizem que Chirac está muito interessado em parecer saudável, especialmente porque o principal adversário dentro de seu partido UMP, o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, de 50 anos, gosta de se apresentar como um líder jovial e cheio de energia.
- Dizer que o presidente está mal de saúde é o mesmo que dizer que o rei está nu. Torna-o muito vulnerável - disse a analista Mariette Sineau, lembrando que no passado os franceses já foram surpreendidos por doenças presidenciais.
O gaullista George Pompidou morreu de câncer em 1974, ainda no cargo. Seu sucessor, o centrista Valéry Giscard d'Estaing, assumiu prometendo divulgar boletins médicos a cada seis meses, mas nunca o fez.
O socialista François Mitterrand chegou ao poder em 1981, fazendo a mesma promessa de D'Estaing, mas cumpriu. Em 1992, revelou que sofria de câncer na próstata. Após sua morte, em 1996, seu médico revelou que Mitterrand ficou sabendo do câncer meses após chegar à presidência, mas falsificou os boletins para ocultar a informação.
O primeiro-ministro Dominique de Villepin minimizou o fato de Chirac ter passado a primeira noite no hospital sem que ninguém no governo - nem o próprio premier - ficasse sabendo. Isso ocorreu, segundo Villepin, porque os médicos quiseram ser cautelosos com o diagnóstico.
Mas muitos políticos pediram mais abertura. François Bayrou, da UDF, disse que esperava que "a transparência viesse mais naturalmente".
O líder socialista François Hollande disse que "a questão mínima a fazer numa democracia, quando o chefe de Estado está no hospital, é do que ele sofre".
O deputado centrista Bernard Debre, que foi cirurgião de Mitterrand, disse à emissora de rádio France 2, que ainda há dúvidas sobre o que Chirac tem.
Analistas ficaram desconfiados da versão oficial dos médicos, que relataram um "pequeno" acidente vascular e "leves" problemas de visão, mas informaram, ainda assim, que o presidente passará vários dias no hospital.
Especialistas dizem que a expressão "acidente vascular" pode se referir a um sangramento ou obstrução de uma artéria ou veia próxima ao olho, o que levaria a problemas de visão. A maioria dos pacientes normalmente se recupera, mas alguns médicos consideram que Chirac terá agora de reduzir suas atividades.
Apesar de a oposição dizer que o presidente parece cada vez mais abatido após dez anos no governo, a saúde de Chirac raramente era objeto de especulações. Mas a analista Mariette Sineau disse que o sigilo visto no passado alimenta as especulações em torno do caso atual.
- Após as mentiras e meias-verdades sobre a saúde de ex-presidentes, as pessoas estão mais preocupadas com Chirac - afirmou.
O presidente nunca prometeu divulgar boletins médicos, mas uma fonte próxima a seu gabinete disse, no fim de semana, que "se houver algo, o governo se compromete a dizer".
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