Quando banqueiros do futuro decidirem conceder um empréstimo, é possível que não prestem tanta atenção ao histórico de crédito do cliente quanto a se ele preenche formulários com letras maiúsculas ou quanto tempo passa lendo dos termos e condições on-line.
Flagrados por softwares sofisticados que vasculham dados sobre a vida de pessoas na rede e fora dela, esses sinais de comportamento são alvos da atenção de start-ups que estão criando novos modelos de concessão de crédito.
Nenhum sinal é definitivo, mas cada um deles é um pedaço de um mosaico, um quadro de previsão que é compilado pela coleta de uma gama de informações de fontes diversas, incluindo hábitos de consumo de um consumidor, seus registros de pagamento de contas e suas conexões nas redes sociais.
"Estamos construindo o banco de consumidores do futuro", disse Louis Beryl, executivo-chefe da Earnest, uma das novas agências.
Mas a tecnologia é tão nova que seu potencial ainda não foi comprovado. E a aplicação da ciência de dados ao crédito ao consumidor é questionada, especialmente por reguladores que implementam leis de combate à discriminação.
Nenhuma das novas start-ups é um banco ao consumidor do tipo que faz todos os serviços bancários de praxe, incluindo depósitos.
Em vez disso, elas se concentram em transformar a concessão de crédito pessoal. A esperança é colocar mais empréstimos ao alcance de milhões de americanos, a custos mais baixos.
A Earnest emprega as novas ferramentas para conceder empréstimos. A Affirm, outra start-up, oferece alternativas a cartões de crédito para compras on-line.
E outra start-up, a ZestFinance, trabalha no mercado relativamente de nicho dos empréstimos de curto prazo e sem garantias.
Todas elas olham não apenas para o histórico de crédito dos clientes, mas para o que têm a dizer as ferramentas da ciência de dados, ou "big data".
Os proponentes da nova tecnologia dizem que ela propicia uma avaliação mais precisa da capacidade creditícia das pessoas, algo que vai ampliar o mercado e reduzir o custo das operações.
Grandes bancos, empresas de cartão de crédito e gigantes da internet estudam as start-ups e suas tecnologias, de olho nos riscos.
Um perigo é que o software possa discriminar determinados grupos raciais ou étnicos, sem ter sido programado para isso.
"Uma decisão é tomada a seu respeito, e você não tem ideia do que a motivou", disse o investidor e ex-banqueiro Rajeev V. Date.
A Affirm, de San Francisco, lançou sua alternativa ao cartão de crédito para compras on-line em julho e deve conceder US$ 100 milhões (R$ 257 milhões) em empréstimos em seu primeiro ano.
Mais de cem empresas on-line já estão usando o Buy With Affirm, seu produto de crédito a prestações. A firma diz que seu próximo passo será a concessão de crédito a estudantes.
"A longo prazo, o objetivo é usar dados e software para vasculhar, analisar e revolucionar o ecossistema financeiro", disse Max Levchin, executivo-chefe da Affirm e fundador da PayPal, empresa líder de pagamentos na internet.
Louis Beryl, da Earnest, teve recusado um pedido de empréstimo bancário para pagar suas despesas educacionais na época em que se preparava para um MBA e também uma pós-graduação em política pública em Harvard. A lição que ele tirou da rejeição de seu pedido de empréstimo foi que os bancos tradicionais analisam as pessoas que pedem crédito sob uma ótica estreita. A Earnest foi fundada em 2013 e começou a conceder empréstimos no ano passado. Em 2014 seus empréstimos chegaram a US$ 8 milhões (R$ 20,56 milhões).
Os empréstimos típicos dados pela firma são de alguns milhares de dólares, embora possam chegar a US$ 30 mil (R$ 77,1 mil). Muitos são para cobrir despesas de mudança de domicílio e para cursos de formação profissional.
Até agora os clientes da Earnest são principalmente universitários formados, na faixa dos 22 aos 34 anos. "No mercado de crédito, o grupo mais incorretamente avaliado é o dos jovens financeiramente responsáveis", disse Beryl.
Ananta Pandey, 22, usou um empréstimo em agosto para comprar um colchão de US$ 850 (R$ 2.184) da loja on-line Casper.
Pandey se formou em ciência da computação no Barnard College, em Nova York, no ano passado, e hoje trabalha na cidade como engenheira de software. Ela precisou do colchão porque estava se mudando para o apartamento que hoje divide com três amigas.
A engenheira apreciou o processo, que disse ser facílimo. A Affirm pede o número de celular de seus clientes, nome, data de nascimento e o número de Seguridade Social. Em seguida, pede que a pessoa responda a uma mensagem. O processo de concessão leva em média dois minutos.