O presidente do México, Andrés Manuel Lopez Obrador, anunciou o rompimento de relações diplomáticas com o Equador após uma ação policial realizada na noite de sexta-feira, na qual policiais equatorianos invadiram a embaixada mexicana em Quito e levaram preso o ex-vice-presidente Jorge Glas. Ele estava abrigado na representação diplomática desde dezembro do ano passado e havia acabado de receber asilo político. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo e da emissora de televisão CNN.
O chefe da Chancelaria e Assuntos Políticos da embaixada mexicana, Roberto Canseco, em declarações a jornalistas, denunciou que os agentes equatorianos invadiram e atacaram os guardas da sede diplomática. “Isso é totalmente inaceitável, não pode ser, é uma barbárie”, disse Canseco, acrescentando que os agentes o agrediram quando ele os confrontou para tentar impedi-los de violar o espaço da Embaixada do México em Quito.
Uma fonte próxima aos acontecimentos afirmou à Agência EFE que Glas foi detido na unidade diplomática e transferido para uma unidade do Ministério Público em Quito. Na madrugada deste sábado, Glas partiu em um veículo blindado e sob forte dispositivo de segurança em direção ao aeroporto de Quito, onde embarcou em uma aeronave com destino a Guayaquil, onde fica o presídio de segurança máxima La Roca. A prisão onde Glas ficará foi confirmada em comunicado do Serviço Nacional de Atendimento Integral a Pessoas Adultas Privadas de Liberdade (Snai), órgão penitenciário do Estado.
Glas foi vice-presidente na gestão dos esquerdistas Rafael Correa e Lenin Moreno, e era acusado de desvio de recursos públicos na reconstrução de cidades litorâneas afetadas por um terremoto em 2016. Além desse caso, ele já tinha duas condenações judiciais, por associação ilícita e suborno agravado, em 2017 e 2020; chegou a cumprir parte da pena, mas estava em liberdade devido a um habeas corpus desde o fim de 2022. Naquela ocasião, o advogado de Glas havia dito que seu cliente não tinha a intenção de fugir do país, mas em dezembro de 2023 ele entrou na embaixada do México em Quito e não deixou mais o local. Em janeiro deste ano, um tribunal equatoriano decretou a prisão preventiva de Glas no caso pelo qual era investigado, mas àquela altura ele já estava abrigado na representação diplomática mexicana.
A concessão de asilo a Glas foi mais um episódio em uma rápida deterioração das tensões diplomáticas entre Equador e México. Dias atrás, López Obrador – que tem um histórico de declarações destemperadas sobre políticos não esquerdistas, a ponto de comparar o êxito eleitoral do argentino Javier Milei à ascensão do nazismo – afirmara que o assassinato do candidato Fernando Villavicencio havia contribuído para a vitória de Daniel Noboa nas eleições presidenciais equatorianas do ano passado ao enfraquecer a candidata esquerdista Luísa González. Em resposta, na última quinta-feira o governo do Equador declarou como persona non grata a embaixadora mexicana no país, Raquel Serur, e determinou sua expulsão do país. No dia seguinte, veio a decisão de concessão de asilo político ao ex-vice-presidente.
Como explicou o colunista da Gazeta do Povo Filipe Figueiredo, as embaixadas têm inviolabilidade garantida por tratados internacionais – embora não sejam consideradas “território” do país representado, ao contrário do mito amplamente propagado. Tanto o Equador quanto o México são signatários da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961, e o México já havia negado, em março, um pedido das autoridades equatorianas para entrar na embaixada e prender Glas. A invasão policial realizada sem autorização na noite de sexta-feira é, portanto, uma violação frontal da lei internacional – o que explica a mudança de postura do México sobre o rompimento de relações diplomáticas, pois até então López Obrador vinha descartando a medida, mesmo com as ações do governo equatoriano contra a embaixadora mexicana.