Como toda manhã de sexta-feira desde que seu pai o levou pela primeira vez à mesquita, Fadi al Lahawi, colocou a "galabeya" branca e passada dos dias de oração comunitária. Despediu-se de sua mulher, pegou sua bicicleta e iniciou o longo caminho que separa a mesquita Al Umari, a mais antiga da Faixa de Gaza, de sua casa no bairro de Zaitum, um dos mais castigados pela atual ofensiva israelense na região.
"Não dormimos, não acho que ninguém tenha dormido esta noite. Meus filhos ainda choram e minha mulher não quis sair durante toda a noite de debaixo da mesa. Mas Alá quis que continuemos vivos", explica Fadi com um trejeito de dor sob profundas olheiras.
"Faz dez dias que não dormimos mais de três horas seguidas. Batem e batem. Pode ser qualquer casa. Ontem à noite foi muito pior", acrescenta antes de argumentar por que não foi embora, como outros, na busca de um lugar mais seguro.
"Somos todos uma mesma humanidade e pertencemos a um só Deus. Ele decide", sentencia antes de perder-se pela porta de um dos únicos lugares, junto ao mercado central.
O governo israelense decidiu na noite de quinta-feira ampliar sua ofensiva militar em Gaza com a fase terrestre, tão temida pela população civil como esperada pelos extremistas de ambos os lados, que pressionaram para impor um conflito armado.
Unidades de infantaria, tanques e carros blindados israelenses cruzaram a linha divisória e se postaram em áreas abertas próximas à fronteira, de onde bombardearam com grande intensidade, toda a noite, bairros do norte, do leste e do sul da Faixa.