Washington Uma investigação sobre a atuação de soldados da coalizão que ocupa o Iraque desde 2003 ameaça lançar um escândalo capaz de abalar a missão. O assassinato de civis pelas tropas encarregadas de garantir o restabelecimento da segurança coloca em xeque os argumentos usados pelos Estados Unidos para manter o Iraque ocupado.
Um oficial das Forças Armadas dos Estados Unidos disse que o assassinato de 24 civis na cidade iraquiana de Haditha (oeste), em novembro passado, teria sido resultado de um ataque gratuito de marines norte-americanos, relatou a edição de ontem do jornal The New York Times. As declarações foram dadas depois de uma investigação ter determinado que as vítimas morreram baleadas.
A investigação, que durou três semanas, foi a primeira oficial a respeito dos assassinatos. A descoberta contradiz a versão dos marines, que disseram ter sido vítimas de um atentado à bomba. A reportagem afirma que a investigação, realizada em fevereiro e março pelo coronel Gregory Watt, encontrou atestados de óbito mostrando que os mortos, em sua maioria, tinham tiros na cabeça e no peito.
"Havia várias inconsistências, as coisas não estavam se encaixando", disse o oficial ao jornal norte-americano. O militar recebeu um relatório sobre as conclusões da investigação preliminar de Watt. Essas conclusões não foram divulgadas para o público. As autoridades dos EUA prometem divulgar os resultados finais da investigação.
Em entrevista à rede de TV CNN, o novo embaixador iraquiano nos EUA, Samir al-Sumaidaie, afirmou haver indícios de que aconteceram outros casos de civis assassinados por marines em Haditha, onde moram alguns dos familiares dele. O embaixador contou que os marines mataram a tiros seu primo durante uma operação de busca em casas vários meses antes do incidente de novembro. "Acho que ele foi morto intencionalmente. Acredito que ele foi morto de forma desnecessária", disse Sumaidaie.
Segundo o embaixador, outros três jovens desarmados foram mortos por marines em um incidente posterior ocorrido na região. "Eles estavam em um carro, estavam desarmados, acredito, e foram executados a tiros".
A investigação de Watt também tratou do pagamento de indenizações de 38 mil dólares em dinheiro para familiares de vítimas do incidente de novembro, afirmou o Times. Em entrevista concedida ao jornal, o major Dana Hyatt disse ter recebido ordens de seus comandantes para indenizar os parentes de 15 das vítimas.
Mas, segundo Hyatt, o resto dos mortos teria realizado atos hostis e, por isso, as famílias deles não receberam indenizações.
Na edição de terça-feira, o Wall Street Journal disse que autoridades civis e militares admitem que "fotos, vídeos e outras evidências indicam que os fuzileiros navais mataram civis desarmados, inclusive mulheres e crianças, sem provocação".
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