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Em 2020, megaprojetos da China no exterior estiveram em seu menor patamar desde o lançamento da Nova Rota da Seda em 2014, apontou um relatório do Overseas Development Institute (ODI), think tank britânico, publicado no começo do mês. Investimentos superiores a US$ 1 bilhão foram poucos e espaçados. Entre janeiro e novembro, 20 megaprojetos estavam em andamento, dos quais 16 eram de engenharia nos setores de energia, transporte, água, resíduos, manufatura e construção.
Segundo o relatório, o número menor – em 2017 eram mais de 30 megaprojetos – se deve aos impactos da Covid-19 e à desaceleração nos investimentos e empréstimos chineses ao exterior, o que começou antes da pandemia, impulsionada, em parte, pelas críticas internacionais aos projetos chineses não finalizados que se tornaram “elefantes brancos” em países em desenvolvimento.
O relatório também informou que ao menos 15 projetos chineses no exterior enfrentaram algum tipo de problema no ano passado, especialmente devido à Covid-19. O alto número de casos da doença e as restrições impostas pelos países para diminuir a circulação do vírus foram a causa apontada pelo estudo para atrasos em projetos de transporte e armazenamento na Costa Rica e na Nigéria. Alguns projetos foram interrompidos por questões financeiras. Outros, em países com relações tensas com a China, foram bloqueados por motivos de segurança nacional ou considerações geopolíticas, inclusive uma aquisição na Austrália, dois contratos de serviço na Índia e na Romênia e aquisições de portos na Índia e no Vietnã. Outros projetos foram paralisados, não estendidos ou encerrados devido a questões ambientais e técnicas.
Investimentos e projetos digitais
Ainda assim, o alcance da Nova Rota da Seda surpreende. Os investimentos da China no exterior em 2020, entre os 136 países que participam da Belt and Road Iniciative (BRI), estiveram concentrados na África Subsaariana e na região no Sudeste Asiático. A maioria destes investimentos, seja em contratos de engenharia ou aquisições, ocorre nos setores de energia, transporte e construção.
Um dos megainvestimentos chineses no ano passado ocorreu na América Latina, com a compra de 96% da Companhia General de Electricidad do Chile, a maior distribuidora de energia elétrica do país, pela China’s State Grid International Development, subsidiária da estatal chinesa State Grid que também possui participação em várias distribuidoras de energia brasileiras, como a CPFL. O investimento no Chile foi de US$3 bilhões.
O relatório da ODI também destaca investimentos chineses em projetos digitais – em sua maioria, da Huawei – em 13 países, focados em criar “centros de pesquisa, desenvolvimento e inovação em 5G, inteligência artificial e produtos e serviços de alta tecnologia; construir capacidade de fabricação para implantar redes 5G; e criar parques tecnológicos para e-commerce e data centers”. Um dos grandes projetos nesta área é a construção de uma cidade inteligente no Marrocos, chamada Mohammed VI Tangier Tech City, que deve envolver mais de 200 empresas chinesas de diferentes setores.
A importância do 5G para a China também fica evidente ao olhar para o mercado interno do país. Em 2019, a Huawei investiu US$ 600 milhões em pesquisa e desenvolvimento da tecnologia e o país anunciou planos de investir US$ 411 bilhões em atualização dos sistemas de telecomunicações para o 5G até 2030.
Considerando preocupações, principalmente de nações ocidentais, sobre segurança de dados e de tecnologia da informação em relação aos projetos chineses, o relatório da ODI conclui que é importante monitorar as oportunidades e os riscos que os investimentos digitais chineses e parcerias podem gerar nos países em desenvolvimento.