O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU se reúne, a partir desta segunda-feira, na Espanha, para escreve o quarto e último capítulo de seu mais recente relatório sobre o clima. Até sábado, cientistas de 130 países discutem, a portas fechadas, as mudanças finais do chamado relatório-síntese, documento que engloba as principais conclusões contidas nos relatórios preliminares, divulgados ao longo do ano, e que sentará as bases para as discussões políticas que determinarão os compromissos ambientais globais depois que o Protocolo de Kyoto expirar, em 2012. O protocolo obriga 35 países industrializados a reduzir, até 2012, 5% suas emissões de gases em relação aos níveis de 1990. Grandes poluidores, como China e Estados Unidos, não seguem as recomendações do tratado.

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A versão final do relatório do IPCC será apresentada no sábado, em Valência, com a presença do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon. O rascunho do documento que circula entre as delegações mantém o tom estritamente científico dos três relatórios que o precederam (e que foram divulgados, respectivamente, em 1990, 1995 e 2001).

No documento final, os cientistas ressaltarão a importância da ação humana para o processo de aquecimento global nos últimos 50 anos, qualificado como "inequívoco". Um avanço em relação à última avaliação, feita em 2001, são as conclusões a respeito de quanto custará o combate ao aquecimento global. Entre as diversas opções apontadas pelo IPCC para reduzir o impacto do fenômeno, estaria estabilizar as emissões de CO2 em um patamar razoável até 2030, a um custo de menos de 3% do PIB mundial.

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- O custo para a estabilização das emissões de gases poluentes é bem menor do que a maior parte dos governos calcula. Até 2030, esse custo não chegará a 3% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, o que significa um custo de 0,12% do PIB por ano. Na verdade, com novas tecnologias, métodos, mercados e comportamentos, esse custo pode ser ainda menor - antecipou em agosto o presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, Rajendra Pachauri.

Para o Brasil, fica o alerta feito na divulgação do segundo capítulo, em Bruxelas, de que parte da Amazônia tende a virar savana se continuarem as atuais políticas ambientais. Mas o alerta deve ficar restrito à versão mais longa do relatório, sem constar do resumo executivo dirigido aos formuladores de políticas públicas. E ainda assim, nenhuma menção deve ser feita ao Brasil: o relatório deve fazer uma referência vaga à "parte leste da Amazônia". Essa é a região que compreende a floresta nas regiões Norte e no Centro-Oeste, onde ambientalistas acusam o governo de permitir a expansão da atividade agrícola para dentro de áreas de mata virgem.

A ciência chancelada pelo IPCC, órgão multilateral formado por delegações de 130 paises, tem o potencial de influenciar as negociações de um acordo pós-Kyoto. Uma reunião para discutir o tema ocorrerá em dezembro em Bali, na Indonésia. O atual protocolo expira em 2012, e negociadores apontam que o ideal seria elaborar um compromisso até 2009, com tempo suficiente para ser ratificado nos Parlamentos nacionais.

No passado, cada relatório científico do IPCC ecoou na classe política para criar compromissos ambientais mundiais. O primeiro, publicado em 1990, levou à criação da Convenção da ONU contra a Mudança Climática, durante a Conferência da Terra, ou simplesmente Eco-92, realizada em 1992 no Rio de Janeiro. A segunda avaliação do IPCC, de 1995, foi a base científica utilizada para a criação, dois anos depois, do Protocolo de Kyoto, que estabeleceu metas de redução de emissões de gás carbônico para os países industrializados. Entretanto, o documento não foi assinado pelos Estados Unidos, o país que exibe de longe a maior taxa de emissões per capita.

Em 2001, o IPCC publicou um terceiro relatório em que destaca a influência da ação humana sobre o aquecimento global, e a esperança é que a relutância política de governos nacionais em combater a mudança climática seja vencida pela comprovação dessa hipótese em um grau de certeza ainda maior, neste relatório. Este relatório-síntese chancelará as conclusões do primeiro capítulo, divulgado em Paris, que tratou das bases científicas da mudança climática. O documento atribuiu a maior parte do aquecimento global dos últimos 50 anos "muito provavelmente" à emissão de gases que causam o efeito estufa.

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Na terminologia do IPCC, isto significa "com mais de 90% de certeza". Em 2001, ano da última avaliação do órgão, os cientistas disseram que esta hipótese era apenas "provável" (com mais de 66% de certeza). Novas pesquisas permitiram aos cientistas afirmar que a temperatura da Terra pode subir entre 1,8ºC e 4ºC até 2100, com o derretimento das camadas polares fazendo os oceanos se elevarem entre 18 cm e 58 cm no período.

No segundo capítulo, dedicado aos impactos da mudança climática, o IPCC chancelou a hipótese de que uma elevação de 2ºC na temperatura da Terra colocará em risco de extinção um terço das espécies do mundo, modificando o meio ambiente planetário de maneira tal que um bilhão de pessoas estarão vulneráveis à fome, sede e doenças

O terceiro capítulo , sobre as alternativas de mitigação do problema, traz a recomendação dos especialistas de estabilizar a emissão de gases que causam o efeito estufa até 2030, e reduzi-la até 2050. Neste contexto, o relatório destaca a importância de medidas como a adoção de energias limpas e de biocombustíveis, como o etanol brasileiro.