O Irã reconheceu nesta sexta-feira, 28, que "progressos" foram feitos para auxiliar o país a superar o efeito do restabelecimento das sanções americanas, após a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear de 2015. Mesmo assim, os esforços feitos pelos remanescentes países da União Europeia no acordo ainda são "insuficientes" para que o Irã não quebre o pacto estabelecido anteriormente.
"Não acredito que o progresso que alcançamos hoje seja considerado suficiente para deter nosso processo, mas a decisão não é minha", afirmou o vice-ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, após uma reunião com diplomatas das grandes potências europeias e aliados iranianos em Viena, na Áustria.
Alemanha, China, França, Reino Unido e Rússia forneceram mais detalhes sobre o sistema do Apoio à Troca Comercial (Instex, na sigla em inglês), mecanismo que vai permitir operações econômicas entre países europeus e o Irã, contornando as sanções dos EUA.
Segundo Araghchi, o Instex já está em operação. O problema é que países europeus ainda não voltaram a comprar o petróleo iraniano, principal produto de exportação do país atingido pelas sanções americanas. Além disso, o Instex ainda não comporta grandes operações, como a própria compra e venda de petróleo.
"Para que o Instex seja útil para o Irã, os europeus devem comprar petróleo ou considerar uma linha de crédito para este mecanismo. Caso contrário, não é o que esperávamos", comentou Araghchi.
Apesar de anunciar um novo encontro dos países entre ministros "para as próximas semanas", assinalando avanços nas negociações, o representante iraniano frisou que a decisão de aumentar o nível de enriquecimento de urânio e a quantia produzida "já foi tomada" por Teerã, e que o processo será mantido, "a menos que se cumpram as nossas expectativas". Araghchi também reforçou em depoimento à imprensa que tomadas de decisões são de responsabilidade do governo.
Ruptura
Teerã exige poder exportar seu petróleo para permanecer no acordo nuclear de 2015 e restabelecer o nível de venda anterior a maio de 2018, quando o presidente americano Donald Trump saiu do acordo.
Ao final da reunião nesta sexta, a China disse que continuará a importar petróleo iraniano, apesar da pressão americana. "Não aceitamos a chamada política 'zero' (importação de petróleo iraniano) dos Estados Unidos", disse à imprensa Fu Cong, diretor-geral de controle de armas do ministério das Relações Exteriores da China. "Nós rejeitamos a imposição unilateral de sanções", acrescentou.
Em meio a tensões entre os EUA e o Irã - uma crise que se agravou no último mês, após ataques iranianos a navios petroleiros no Estreito de Ormuz e a derrubada de um drone americano em solo iraniano, seguido por tentativas de hackear os sistemas de segurança iranianos feita pelos EUA - a intenção de quebrar o acordo nuclear feita pelo Irã é vista como delicada pelos diplomatas.
O acordo nuclear obriga Teerã a produzir no máximo 300 quilos de urânio, enriquecido a 3,67%, utilizado para geração de energia. No dia 17 de junho, o governo iraniano afirmou que dentro de um prazo de 10 dias - vencido na quinta-feira, 27 - estaria com um estoque maior do que o permitido.
O governo assinalou que se encontra a poucos quilos de superar o patamar, o que em todo caso deverá ser confirmado oficialmente pelos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Diplomatas que acompanham o trabalho dos inspetores da ONU afirmaram à Agência Reuters que os dados adquiridos por eles sugerem que o Irã ainda não havia ultrapassado o limite do estoque no prazo do dia 27, mas que alcançaria sua meta no fim de semana.
Outro prazo datado para o dia 7 de julho pelo Irã estabelece que a produção estará sendo feita a um nível de enriquecimento de urânio maior do que o estabelecido pelo acordo nuclear. O país pretende chegar ao patamar de 20%. Apesar de ainda ser inferior ao mínimo necessário para fins bélicos - acima de 90% - a intenção não deixa de ser uma ameaça aos EUA e à União Europeia. (Com agências internacionais)