Viena (EFE) O Irã ameaçou ontem interromper sua cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) caso a Junta da entidade decida enviar o programa nuclear do país ao Conselho de Segurança da ONU (CS). O negociador-chefe do Irã para assuntos nucleares e secretário-geral do Conselho de Segurança Nacional, Ali Larichani, afirmou em uma carta enviada ontem ao diretor-geral da AIEA, Mohamed El Baradei, que a República Islâmica "não tem outra opção". Levar o caso ao órgão máximo das Nações Unidas "destruiria a confiança iraniana" e forçaria o cumprimento de uma lei do país que estipula que o governo "deve interromper toda cooperação voluntária", declarou Larichani na carta divulgada em Viena. "Nesse caso, a supervisão da entidade seria muito limitada e as atividades nucleares pacíficas sob suspensão voluntária seriam reiniciadas sem nenhum tipo de restrição", acrescentou.
Larichani se refere à cooperação de seu país no âmbito do Protocolo Adicional do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP), que permite que os inspetores da AIEA visitem qualquer instalação nuclear do Irã sem aviso prévio. A reunião da Junta foi suspensa ontem e será reiniciada hoje às 12 horas (de Brasília), no momento em que é esperada a votação de uma resolução apresentada por Alemanha, França e Reino Unido, que envia o dossiê iraniano ao Conselho de Segurança. Tudo indica que o bloco ocidental conta com a maior parte dos votos favoráveis, contra a rejeição garantida de Venezuela e Cuba e provavelmente da Síria. O apoio de Rússia e China é fundamental. As duas potências nucleares estavam até agora reticentes em enviar o caso iraniano para o CS.
A resolução pede a El Baradei que informe o órgão máximo das Nações Unidas sobre os descumprimentos anteriores do Irã, e pede que um novo relatório técnico sobre a cooperação do país árabe na investigação internacional de seu programa nuclear seja elaborado até a próxima reunião da Junta, em 6 de março. Além disso, o texto solicita ao Irã que suspenda novamente medidas que visam a tornar confiáveis todas as atividades relacionadas ao enriquecimento de urânio, material considerado sensível por proporcionar aplicações nas áreas civil e militar.
O embaixador russo Gregory Berdennikov confirmou ontem à tarde que seu país apoiará a resolução que transfere o polêmico caso para o CS. Os cinco membros permanentes do órgão da ONU, Rússia, China, EUA, França e Reino Unido, concordaram, na segunda-feira, em enviar o dossiê iraniano para o CS. Por outro lado, El Baradei declarou ontem que a Junta quer enviar "uma mensagem clara" ao Irã, que deve cooperar de forma mais intensa com a comunidade internacional, mas que isso não "se trata de pedir ao Conselho que entre em ação por enquanto".
Quando questionado se o Irã poderia evitar a denúncia ao Conselho de Segurança, o responsável da AIEA respondeu que "a maioria prefere informar o Conselho sobre o tema agora", embora tenha dito que se chegou a "uma fase crítica, mas não a uma crise". "A Junta quer oferecer um sinal claro de que o Irã deve adotar mais medidas para proporcionar confiança", acrescentou.
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