O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, disse que o pacote de incentivos e sanções oferecido por potências mundiais com o intuito de convencer o país a limitar seu programa nuclear é um passo positivo, mas não afirmou como responderia à oferta.
Ahmadinejad, dando declarações aparentemente mais moderadas sobre a questão, disse que a oferta dos membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Alemanha era um "passo adiante" e que havia pedido a seus subalternos que o avaliassem com seriedade.
Mas o presidente não respondeu a perguntas sobre quando o Irã se manifestaria oficialmente a respeito do pacote e sobre quais seriam as contrapropostas do país.
- Meus colegas estão avaliando cuidadosamente o pacote de propostas oferecido pelos seis países à República Islâmica do Irã e, no momento adequado, vamos dar nossa resposta - afirmou, por meio de um tradutor, durante uma entrevista coletiva concedida em Xangai.
As potências ocidentais acreditam que o programa de enriquecimento de urânio do Irã pode ser usado para fabricar armas nucleares. O país nega e diz que busca desenvolver essa tecnologia com o fim exclusivo de produzir eletricidade.
A China, que depende bastante do petróleo importado do Irã, deu apoio à oferta feita ao país, mas resiste à eventual imposição de sanções pela ONU contra os iranianos, uma hipótese aventada pelos EUA.
Na sexta-feira, o presidente chinês, Hu Jintao, pediu a Ahmadinejad que "responda positivamente" ao pacote, disse a agência de notícias Xinhua. Mas Hu também afirmou: "A China entende a preocupação do Irã com seu direito de usar a energia nuclear para fins pacíficos."
O vice-ministro iraniano das Relações Exteriores, Seyed Abbas Araghchi, disse que o Irã deseja negociar "sem condições prévias" sobre o pacote, com as potências ocidentais.
- Estamos convencidos de que as negociações são muito importantes, mas essas negociações não podem ter condições prévias - afirmou a autoridade por meio de um intérprete russo, durante uma viagem à cidade de Almaty, no Cazaquistão.
Em Xangai, Ahmadinejad tentou usar a entrevista coletiva para atrair o apoio da China e para negar que o Irã tenha qualquer ambição de fabricar armas nucleares.
- Em suma, não estamos tentando desenvolver armas atômicas - disse o presidente iraniano, que brincou com os repórteres.
No mês passado, quando o pacote de incentivos e penalidades estava sendo elaborado, Ahmadinejad disse que aceitar tais incentivos seria como trocar "doces por ouro".
O dirigente afirmou não estar preocupado com a possibilidade de Israel atacar seu país.
- A República Islâmica do Irã desenvolveu a capacidade de se defender.
Questionado sobre o genocídio dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, Ahmadinejad repetiu sua polêmica opinião de que o Holocausto é uma questão em aberto que precisa ser investigada de forma "independente e imparcial".
Mas o presidente iraniano, que já defendeu abertamente a destruição de Israel, afirmou que os judeus, os cristãos e os muçulmanos têm o "direito de serem respeitados".
Ahmadinejad estava na cidade chinesa para participar, como observador, de uma cúpula da Organização de Cooperação de Xangai, uma organização de segurança da região central da Ásia. O dirigente acabou capitalizando a atenção dos meios de comunicação.
No entanto, qualquer decisão do Irã a respeito do pacote depende do líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, não do presidente.
Se o Irã rejeitar a proposta e continuar com seu programa de enriquecimento de urânio, as potências ocidentais podem pressionar pela imposição de sanções no Conselho de Segurança, uma medida a que se opõem a China e a Rússia.
- As sanções não deveriam ser usadas como arma de barganha ou como forma de pressão contra os países do mundo - afirmou Ahmadinejad.
O presidente russo, Vladimir Putin, conversou sobre a questão nuclear com o dirigente iraniano na quinta-feira. Os chanceleres da China e do Irã também trocaram suas impressões a respeito do caso e, na sexta-feira, Ahmadinejad reuniu-se com Hu.
O Irã é o terceiro maior fornecedor de petróleo da China e já ofereceu aos membros da Organização de Cooperação de Xangai firmar acordos no setor energético. Na sexta-feira, porém, o presidente iraniano não repetiu essas ofertas.