O Irã impediu dois inspetores nucleares da Organização das Nações Unidas (ONU) de entrarem no país, disse um alto funcionário nesta segunda-feira, complicando ainda mais a disputa internacional em torno das ambições nucleares de Teerã.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, um órgão da ONU) rejeitou as razões alegadas pelo Irã e disse dar pleno apoio a seus inspetores, acusados por Teerã de ter informado erroneamente que alguns equipamentos nucleares iranianos haviam sumido.
"A AIEA tem plena confiança no profissionalismo e imparcialidade dos inspetores envolvidos", disse o porta-voz Greg Webb, numa nota em termos excepcionalmente duros, que descrevia o relatório do mês passado da AIEA como "totalmente preciso."
O Irã, que declarou os dois inspetores "personae non gratae", deixou claro que permitirá que outros inspetores entrem nas suas instalações nucleares.
"As inspeções estão continuando sem interrupção", disse o embaixador do Irã na AIEA, em Viena, Ali Asghar Soltanieh. "(Mas) temos de demonstrar mais vigilância nos inspetores, para proteger a confidencialidade", disse ele, criticando supostos vazamentos de informações por parte de inspetores ocidentais.
Segundo a agência de notícias Isna, o diretor da Organização de Energia Atômica do Irã, Ali Akbar Salehi, disse que seu país pediu à AIEA que substitua os dois inspetores em questão, cuja identidade e nacionalidade não foram divulgadas. A AIEA não confirmou se fará isso.
O Conselho de Segurança da ONU aprovou no dia 9 uma quarta rodada de sanções ao país por causa da sua recusa em abandonar o enriquecimento de urânio. Os EUA e seus aliados suspeitam que o Irã esteja tentando desenvolver armas nucleares. Teerã nega.
O Irã qualificou as sanções de ilegais, e parlamentares alertaram que elas poderiam perturbar as relações do governo com a AIEA.
Apesar do agravamento da tensão, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, disse em Viena que ainda acredita na adoção de um plano para que o Irã entregue parte do seu material nuclear, o que serviria de base para novas discussões sobre o controle do programa atômico iraniano, apesar das novas sanções internacionais ao país.
Potências ocidentais veem com desconfiança o acordo, mediado por Brasil e Turquia no mês passado, pelo qual o Irã entregaria 1.200 quilos de urânio baixamente enriquecido para em trocar receber, no prazo de um ano, 120 quilos de urânio enriquecido a 20 por cento para o seu reator de pesquisas médicas.
Dias depois do acordo, os EUA e seus aliados convenceram Rússia e China a aceitar as novas sanções ao Irã. Brasil e Turquia, que são membros temporários e sem direito a veto do Conselho, votaram contra. Foi a primeira vez que uma resolução contra o Irã não teve unanimidade.
"Na minha opinião, acho que as sanções tornaram (a negociação) mais difícil, ao invés de mais fácil. Mas não acho que tornaram impossíveis", disse Amorim a jornalistas durante um evento em Viena.
"Então, se houver boa vontade e flexibilidade, ainda será possível encontrar um acordo."