A agência de energia nuclear da ONU aponta pela primeira vez indícios claros de que o programa nuclear do Irã incluiu atividades com propósitos militares. O aguardado relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), apresentado ontem, reforça os argumentos de países que defendem mais pressão sobre o regime do Irã.Em 14 páginas, incluindo um anexo especificamente sobre as "dimensões militares" do programa iraniano, o dossiê detalha testes e aquisição de material e tecnologia que indicam o desenvolvimento de armas atômicas.
"A agência tem sérias preocupações com as possíveis dimensões militares do programa nuclear do Irã", conclui a AIEA, que se baseou em suas inspeções e em dados "confiáveis" fornecidos por outros países.
"A informação mostra que o Irã conduziu atividades relevantes ao desenvolvimento de um artefato explosivo nuclear" antes de 2003, mas que algumas delas "podem ainda estar ocorrendo".
Entre elas, o relatório aponta um programa oculto para produzir material nuclear longe dos inspetores, testes para transformá-lo em uma bomba e a "reengenharia" do míssil de longo alcance Shahab 3, a fim de que ele acomode uma ogiva nuclear.
A agência afirma ter "fortes indicações" de que o Irã foi assistido por um especialista estrangeiro no desenvolvimento de um sistema de detonação que seria destinado a armamento nuclear.
O relatório não cita o nome do especialista, mas o jornal Washington Post já o havia identificado como o russo Vyacheslav Danilenko, um cientista que trabalhou no programa de armas atômicas da extinta União Soviética.
Em uma década de inspeções, este é o mais substancial e detalhado dossiê da AIEA sobre as atividades militares do programa nuclear do Irã, que sempre alegou ter apenas fins pacíficos.
Ataque
As novas informações são divulgadas num momento em que voltaram a circular especulações sobre um plano de Israel para atacar instalações nucleares do país.
As evidências foram apresentadas aos 35 membros do conselho de diretores da AIEA, da qual o Brasil faz parte. O conselho se reunirá em dez dias para discutir possíveis respostas, que podem incluir pedido de sanções.
O governo do Irã rejeitou o teor do relatório, acusando-o de ser "desequilibrado, antiprofissional e politicamente motivado", segundo as palavras de Ali Asghar Soltanieh, representante do país na agência, com sede em Viena.
O dossiê da AIEA não faz uma estimativa de quanto tempo o Irã precisa para chegar à bomba atômica. Mas oferece claros indícios de que o programa nuclear do país tem a dimensão nuclear que um grupo de países, encabeçados por Israel e EUA, apontam há anos.