Viena O representante do Irã na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Ali Asghar Soltanieh, acredita que seu país está sendo vítima de uma perseguição política e mostra que são usados dois pesos e duas medidas ao comparar o programa de seu país com os de Brasil e Argentina. "A polêmica em relação ao nosso programa, ou a ausência dela no caso de Brasil e Argentina, é uma indicação que esse assunto é puramente político, e não técnico", disse.
O embaixador do Irã na AEIA afirmou que Irã e Brasil estão "exercendo o direito que lhes é conferido pelo Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP)". "Em todas as inspeções feitas pela agência em nossas instalações, algumas delas muito intrusivas, jamais encontraram qualquer indício do uso de urânio enriquecido para fins militares", afirmou.
Já a AEIA alegou que o controle dos programas nucleares é o mesmo em todos os países signatários do TNP e que o debate em torno dos programas de enriquecimento de urânio "surgiram por causa do Irã", como disse porta-voz da organização, Melissa Fleming.
AIEA
"Se um país estiver traindo o sistema, a comunidade internacional não terá tanta confiança de que suas instalações serão usadas apenas para fins pacíficos", disse Fleming.
O diretor-geral da AIEA, Mohammed El-Baradei, disse recentemente na 50.ª Reunião Anual da agência que os assuntos pendentes em relação ao programa nuclear iraniano "não puderam ser resolvidos devido à falta de transparência necessária por parte do Irã".
Para o chefe da delegação brasileira no encontro, Antônio José Vallim Guerreiro, o problema do Irã é sua falta de credibilidade na AIEA. "Ninguém contesta o direito do Irã em enriquecer urânio. O que muita gente contesta é o exercício deste direito neste momento em que ainda há dúvidas na cabeça de muita gente sobre suas reais intenções", disse Guerreiro. "A situação do Irã é diferente da do Brasil e da Argentina pelo fato de a própria agência reconhecer que o Irã passou 18 anos sem lhe informar uma série de atividades que deveriam ter sido informadas. O que o Irã tem é de recuperar a credibilidade junto à comunidade internacional como um todo", avaliou.
Ao mesmo tempo em que boa parte da comunidade internacional exige que o Irã pare imediatamente de enriquecer urânio em seu país, o Brasil inaugurou neste ano uma usina de enriquecimento em Resende e a Argentina anunciou que está se preparando para fazer o mesmo processo em um futuro próximo.
Melissa disse que o programa brasileiro se enquadra nos de países "que ganharam confiança através de seus sistemas de inspeção e que não abusaram do sistema", e que, por isso, "não sofrem muita repercussão quando desenvolvem esta tecnologia".
O controle total da AIEA sobre as atividades de seus países membros é importante para aferir a extensão do enriquecimento de urânio. Além da questão política, o enriquecimento de urânio traz consigo um importante fator econômico. Poucos países detêm essa tecnologia, que supre a demanda de usinas nucleares espalhadas pelo mundo todo: Estados Unidos, França, Rússia, China, Japão e um consórcio formado por Alemanha, Grã-Bretanha e Holanda chamado URENCO, além de Brasil e Argentina. O Irã, pelos pontos não esclarecidos junto a AIEA, não entra nesta relação.
Para o Brasil, o objetivo inicial da usina em Resende é apenas o de fornecer o combustível necessário para o funcionamento das unidades de Angra dos Reis, tornando-se independente das importações que tem de fazer atualmente.
Já a Argentina não esconde seu interesse em exportar. Para Dário Jinchuk, membro da Comissão Nacional de Energia Nuclear daquele país, "nosso interesse em voltar a enriquecer urânio advém de fatores energéticos e econômicos. Por um lado, podemos aumentar a porcentagem de energia nuclear do total de energia consumida na Argentina, que atualmente é de 8%. Por outro, temos de reconhecer que o preço do urânio quintuplicou nos últimos anos".