O relatório da Agência Internacional de Energia Atômica sobre o programa nuclear iraniano afirma que o país não parou de enriquecer urânio dentro do prazo estipulado pela ONU, abrindo caminho para a implementação de sanções.
Os Estados Unidos lamentaram o fato, bem como a França. O presidente George W. Bush disse que o país deve agora enfrentar as conseqüências.
Uma autoridade iraniana insiste que a questão deve permanecer no âmbito da agência de energia atômica, sem a necessidade de ser discutida pelo Conselho de Segurança.
O Irã voltara a afirmar que não vai se curvar diante da pressão ocidental, horas antes da divulgação do relatório da Organização das Nações Unidas (ONU).
- O Ocidente deveria saber que a nação iraniana não vai ceder à pressão e não vai aceitar violações dos seus direitos - disse o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, em discurso transmitido pela televisão.
O Irã disse que tem direito de enriquecer combustível nuclear, que nunca vai abandonar seu programa e que pretende, com ele, produzir apenas energia para fins pacíficos. O Ocidente suspeita que a República Islâmica tenha um projeto secreto de armas e o Conselho de Segurança da ONU ordenou que ela suspenda os trabalhos.
- Potências arrogantes querem parar o progresso da nossa nação. Estou dizendo que estão erradas - disse Ahmadinejad.
Washington afirma que as potências mundiais vão começar a debater medidas punitivas contra o Irã na próxima semana.
Com o fim do prazo, o Irã lançou uma das bases do projeto, uma usina de produção de água pesada, e continuou com o enriquecimento de urânio, apesar das quantidades pequenas, insignificantes, na centrífuga de Natanz, disseram diplomatas.
Mas o Irã, em resposta dada no dia 22 de agosto à oferta de seis potências mundiais de incentivos comerciais em troca do fim do enriquecimento de urânio, sugeriu que está aberto a negociações sobre o programa. Isso levou alguns aliados dos EUA na União Européia (UE) a pedirem negociações com Teerã em vez de recorrer a sanções no Conselho, disseram diplomatas ocidentais.
- Isso serve para ganhar mais tempo e adiar as sanções - disse um diplomata, refletindo a preferência da UE por um acordo com o Irã, em vez de isolar o país, que é um dos maiores fornecedores de petróleo do Ocidente.
Em possível aceno à UE, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Sean McCormack, disse que, mesmo após o início dos debates sobre sanções, o Irã poderá optar pela suspensão do processamento de urânio e ampliar, assim, as negociações para implementar o pacote de incentivos.
O porta-voz de Javier Solana, chefe da política exterior da UE, disse que ele pode conversar por telefone com o negociador iraniano, Ali Larijani, antes do final do prazo, e que depois pode haver um encontro para tentar esclarecer a resposta iraniana.
- O Irã tem a capacidade necessária para lidar com qualquer desafio criado pelas sanções - disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Hamid Reza Asefi, segundo a televisão estatal iraniana.
- Nos últimos 27 anos, o Irã esteve sob sanções não declaradas - acrescentou, em referência ao embargo dos EUA que não impediu Teerã de lançar um programa nuclear. "O país sabe como se livrar da pressão".
[Ahmadinejad visita usina em Arak - Reuters]
As preocupações sobre as intenções do Irã são incentivadas pelo passado do país em esconder trabalhos nucleares por 18 anos, por não cooperar totalmente com as investigações da AIEA e pelos pedidos de destruição de Israel, dizem autoridades ocidentais.
O chefe da agência nuclear, Mohamed ElBaradei pode declarar que o Irã atrapalhou as investigações da agência sobre a natureza de sua atividade nuclear, o que paralisou os trabalhos, disse um diplomata sênior próximo da agência.
O Irã está retendo as respostas às perguntas da AIEA como moeda de barganha para negociações com as grandes potências, dizem diplomatas.
Moscou e Pequim, que tendem a proteger seus grandes contratos de energia com Teerã e que não vêem ameaça iminente no programa nuclear do país islâmico, pediram o retorno da diplomacia depois da resposta do Irã ao pacote de incentivos.
Um diplomata da UE disse que o Irã tem um interesse claro em marcar uma reunião com a UE depois de 31 de agosto para escapar do prazo da ONU, levar os europeus a negociações sobre negociações e atrasar debates sobre ação punitiva.
Os militares dos EUA estimam que o Irã poderá ter os meios para produzir uma bomba nuclear dentro de 5 a 8 anos, o que dá tempo para o governo Bush considerar se realizará ataques aéreos para acabar com o programa, disse o jornal "Washington Times".
Os principais aliados de Washington são contra a ação militar, temendo que ela provoque mais tensão no Oriente Médio e não consiga destruir a capacidade nuclear do Irã. As instalações atômicas do Irã estão espalhadas pelo país e têm forte defesa.