WikiLeaks
Linhas-duras impediram acordo
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, tentou chegar a um acordo de troca de combustível nuclear mais de um ano atrás, mas enfrentou pressões internas de linhas-duras que viam a medida como uma "derrota virtual", segundo telegramas diplomáticos divulgados pelo WikiLeaks. Os documentos, disponibilizados no site da organização ontem, também dão a entender que o Irã confiou em seu arqui-inimigo, os Estados Unidos, mais do que em seu aliado, a Rússia, para dar prosseguimento à proposta apoiada pela Organização das Nações Unidas (ONU) de fornecer combustível pronto para o reator iraniano em troca da desistência do Irã em controlar seu próprio estoque de urânio de baixo enriquecimento.
A avaliação foi feita para um importante enviado norte-americano pelo ministro de Relações Exteriores da Turquia, Ahmet Davutoglu, cujo país tem um relacionamento de amizade com Teerã e vai sediar a próxima rodada de negociações.
O Irã convidou vários países, entre eles a China e a Rússia, menos os Estados Unidos e a França, a visitar suas instalações nucleares, anunciou ontem à imprensa o porta-voz das Relações Exteriores, Ramin Mehmanparasrt. "A visita poderá acontecer antes da reunião de Istambul" (no final de janeiro entre o Irã e o grupo 5+1 sobre a questão tema nuclear), afirmou, acrescentando que o convite é "um novo sinal de boa vontade" do Irã e de cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Segundo a imprensa, a carta-convite foi entregue pelo representante do Irã na AIEA, Ali Asghar Soltanieh. A Hungria, um dos países convidados por Teerã para visitas nos dias 15 e 16 de janeiro, na qualidade de presidente da União Europeia, informou que conversaria com os demais membros sobre a questão.
A China confirmou ter sido convidada. "A China recebeu o convite do Irã e continuará seus contatos com o Irã a respeito", declarou, Hong Lei, porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores.
Reação
O convite do Irã, porém, deixou de fora Grã-Bretanha, França, Alemanha e Estados Unidos, países que mais se opõem ao seu programa nuclear. O convite do Irã é uma surpresa para alguns embaixadores que trabalham no órgão nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU) em Viena.
O governo americano afirmou que o convite feito nada mais era do que uma "palhaçada". "Já vimos o Irã fazer essas palhaçadas", disse o porta-voz do departamento de Estado, Philip Crowley, à AFP. "É uma tentativa de dispersar a atenção da falta de respeito do país em relação às obrigações para com a AIEA."
É uma tentativa de mostrar abertura em relação às suas polêmicas atividades atômicas, que, pelas suspeitas do Ocidente, podem ser destinadas à fabricação de bombas nucleares. O Irã diz que seu programa de enriquecimento de urânio tem fins exclusivamente pacíficos.
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