O Irã pediu na terça-feira, passando de vidraça a estilingue na questão dos direitos humanos, que a Grã-Bretanha deixe de usar a força contra os distúrbios que vêm abalando Londres.
Já a Europa acompanha com apreensão os fatos no Reino Unido. França e Áustria emitiram alertas a seus cidadãos para que não viajem à Grã-Bretanha, e um parlamentar belga disse temer que os distúrbios sejam copiados no seu próprio país.
"Deve ser estranho para os londrinos lerem um alerta de viagens de países estrangeiros contra o Reino Unido; normalmente é ao contrário", escreveu pelo Twitter o comentarista social Mishaal al Gergawi, do golfo Pérsico - região que tem testemunhado muitos distúrbios por conta da chamada Primavera Árabe.
Ramin Mehmanparast, porta-voz da chancelaria iraniana, disse que o governo britânico deveria "exercitar a moderação" e "conversar com os manifestantes e ouvir as suas exigências", disse a agência estatal de notícias Irna.
Há anos o Irã tem sido alvo de críticas de governos ocidentais por causa da sua situação dos direitos humanos, especialmente ao ter reprimido com violência manifestações ocorridas depois da reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em junho de 2009.
O deputado Hossein Ebrahimi disse à semioficial agência Fars que a Grã-Bretanha deveria autorizar a entrada de uma delegação de monitores de direitos humanos.
Os distúrbios começaram no sábado, depois de um protesto até então pacífico contra um incidente em que dois homens foram baleados por policiais. Nos últimos três dias, os casos de saques e vandalismo se espalharam para outras cidades britânicas, e mais de 400 pessoas já foram detidas. Esses são os piores incidentes em Londres em várias décadas.
O canal de notícias da TV iraniana exibiu imagens dramáticas vindas de Londres, e um locutor as descreveu como uma "guerra civil".
No Egito, que também teve neste ano distúrbios que levaram à deposição do presidente Hosni Mubarak, um funcionário do governo não resistiu a ironizar a situação. "Vamos enviar ONGs egípcias para verificar", disse essa fonte, aludindo aos ocidentais que monitoraram as tentativas de Mubarak de reprimir os protestos na praça Tahrir, no Cairo.
França e Áustria aconselharam seus cidadãos a terem cautela na Grã-Bretanha, especialmente ao andarem à noite nos centros urbanos. A chancelaria italiana criou uma linha telefônica especial para ajudar cidadãos atingidos pelos distúrbios.
Em entrevista publicada na terça-feira pelo jornal belga La Capitale, o parlamentar Alain Destexhe disse que "é possível que isso aconteça (na Bélgica) em um futuro mais ou menos próximo".