EUA não são "cegos" ou "estúpidos" nas negociações com Irã, diz Kerry
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse neste domingo que os Estados Unidos continuam céticos em relação à vontade do Irã de desmantelar o seu programa nuclear e que as sanções serão mantidas enquanto as negociações continuarem.
"Nós não somos cegos, e eu não acho que nós sejamos estúpidos. Acho que temos uma boa noção de como medir se estamos ou não agindo de acordo com os interesses do nosso país e do mundo", disse Kerry ao programa "Meet the Press" da NBC.
Os EUA e seus aliados diminuíram suas diferenças com o Irã nas negociações deste fim de semana em Genebra, mas não foram capazes de chegar a um acordo, com a França afirmando que a proposta não neutralizou adequadamente o risco de uma bomba atômica iraniana.
Israel também manifestou ceticismo, advertindo que o Irã não merece confiança até que desmonte o seu programa nuclear.
Kerry disse que os EUA têm o objetivo de conseguir que Teerã suspenda o desenvolvimento nuclear como um primeiro passo em direção a um desmantelamento completo do programa. Washington vai manter as sanções em vigor por enquanto, disse ele.
"Ninguém falou sobre como se livrar da arquitetura atual de sanções. A pressão continuará", disse.
O Irã e seis potências mundiais não conseguiram chegar a um acordo na maratona de negociações para conter o programa nuclear iraniano, mas afirmaram que as diferenças diminuíram e que deverão retomar o diálogo em 10 dias em uma nova tentativa de acabar com o impasse que se arrasta há uma década.
Mas divisões claras surgiram entre os Estados Unidos e seus aliados europeus no último dia de negociações, já que a França deu a entender que a proposta em discussão não neutralizaria suficientemente a ameaça de uma bomba nuclear iraniana.
As principais potências mundiais suspeitam que o Irã esteja tentando desenvolver armas nucleares e, por isso, a comunidade internacional impôs punições à República Islâmica, que insiste no caráter pacífico das suas atividades.
O Irã espera por um acordo que alivie as sanções internacionais que congelaram seus ativos ao redor do mundo e têm impedido o país de vender o petróleo que produz.
São, finalmente, os norte-americanos e os iranianos, que não tiveram vínculos formais diplomáticos há mais de três décadas, que têm o poder de fazer um acordo.
Mas no sábado, a atenção de repente se virou para a França, depois que o chanceler francês, Laurent Fabius, disse à rádio France Inter que Paris não poderia aceitar um acordo fraco com o Irã.
"Desde o início, a França queria um acordo para a importante questão do programa nuclear do Irã", disse Fabius a jornalistas após a reunião, que durou até as primeiras horas deste domingo.
"A reunião de Genebra nos permitiu avançar, mas não fomos capazes de concluir, porque ainda há algumas questões a serem abordadas", disse Fabius.
As observações pontuais do chanceler irritaram outras potências. Um diplomata próximo das negociações disse que os franceses estavam tentando ofuscar as outras potências e estavam causando problemas desnecessários para os participantes nas negociações que pretendem garantir um acordo com o Irã.
"Os norte-americanos, a União Europeia e os iranianos têm trabalhado intensamente juntos há meses sobre esta proposta e isso nada mais é do que uma tentativa de Fabius de ter alguma relevância no fim das negociações", disse o diplomata à Reuters sob condição de anonimato.
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, minimizou as sugestões de um racha, dizendo: "Eu acho que hoje há uma unidade em nossa posição e uma unidade ao sairmos daqui."
A chefe de política externa da UE, Catherine Ashton, disse que altos funcionários políticos do Irã e os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) mais a Alemanha irão se reunir novamente em 20 de novembro.
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