Assalouyeh, Irã Os presidentes do Irã e da Venezuela deram início ontem a obras conjuntas para a construção de uma usina petroquímica, fortalecendo assim o "eixo da unidade" entre os dois países, ricos em petróleo e adversários ferrenhos dos Estados Unidos. O venezuelano Hugo Chávez e o iraniano Mahmoud Ahmadinejad, afeitos a dar declarações criticando o governo norte-americano, também assinaram uma série de acordos para ampliar a cooperação econômica entre seus países, abrangendo desde o setor de laticínios na Venezuela à formação de uma empresa petrolífera.
"Os dois países se unirão para derrotar o imperialismo da América do Norte", afirmou Chávez, em uma entrevista coletiva concedida durante a visita oficial dele à República Islâmica. Os EUA acusaram o país do Oriente Médio de fazer parte de um "eixo do mal." "Quando venho ao Irã, Washington fica contrariado", disse o presidente venezuelano.
Os dois líderes cujos países integram a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) haviam, horas antes, comparecido a uma cerimônia na qual se lançaram as obras de construção de uma fábrica de metanol com capacidade para produzir 1,65 milhão de toneladas do produto por ano.
A empresa será construída em uma região iraniana banhada pelo golfo Pérsico. "O Irã e a Venezuela o eixo da unidade", lia-se em um dos muitos pôsteres afixados no local das obras, perto da cidade portuária de Assalouyeh. No cartaz, os dois líderes apareciam abraçados e apertando as mãos.
Ahmadinejad que subiu ao poder dois anos atrás prometendo revitalizar os valores da revolução de 1979 descreveu os eventos recentes como passos capazes de aprofundar os laços "fraternais" dos dois países "revolucionários." O Irã enfrenta atualmente um embate com potências ocidentais devido ao programa nuclear dele.
Chávez, que na semana passada expulsou de seu país duas empresas norte-americanas do setor petrolífero como parte de sua "revolução socialista", disse: "Isso significa a união do golfo Pérsico com o mar do Caribe." Segundo autoridades iranianas, uma segunda usina de metanol seria construída na Venezuela. Cada uma das obras custaria algo entre 650 milhões e 700 milhões de dólares e levaria quatro anos para ser finalizada.
O metanol é um álcool que pode ser usado como solvente ou na fabricação de combustíveis. Isso ajudaria o Irã a ingressar com seus produtos no mercado latino-americano ao mesmo tempo em que permitiria à Venezuela ficar mais perto de seus clientes indianos e paquistaneses.
Chávez, que deseja selar uma aliança de países esquerdistas a fim de contrapor-se às políticas norte-americanas, chegou a Teerã no sábado após visitar a Rússia e Belarus. Em comentários feitos sob medida para agradar seus anfitriões, que defenderam por várias vezes uma retirada norte-americana do Iraque, o presidente venezuelano descreveu os que invadiram o território iraquiano como "bárbaros." E traçou um paralelo entre o processo atual e a colonização européia da América Latina, centenas de anos atrás. "Os que tentam convencer o mundo de que, no Irã, há um monte de bárbaros são eles próprios bárbaros."