As autoridades iranianas elogiaram nesta segunda-feira (2) a mudança na atitude do Reino Unido que pôde ser evidenciada nos últimos dois dias e, por isso, decidiram que, por enquanto, não exibirão mais imagens dos 15 militares detidos, confirmando ainda que mantêm contatos diretos com Londres sobre a crise.
A televisão "Alalam" possui mais entrevistas com os militares da marinha britânica em que admitem terem entrado em águas iranianas.
A emissora, no entanto, afirmou que não exibirá estes vídeos como um gesto de Teerã em resposta aos britânicos.
"Parece que a Grã-Bretanha, nos últimos dois ou três dias, mudou um pouco de sua postura em relação aos fatos indiscutíveis e quanto a seu tom de voz", disse a reportagem de TV.
Tudo indica que os movimentos diplomáticos dos últimos dias e a troca de mensagens consulares fazem parte da nova atitude de Teerã.
Uma fonte próxima à presidência iraniana confirmou que Teerã mantém contatos diretos com Londres em relação ao caso dos militares e ressaltou que a solução depende da atitude britânica.
De acordo com a mesma fonte, o governo do Irã não interrompeu o diálogo e foi o Reino Unido quem adotou a postura de se afastar do âmbito diplomático neste episódio.
"São eles que têm que ligar e admitir que entraram em águas iranianas", afirmou a fonte, frisando que Teerã nunca fechou a via diplomática em relação à crise e que o Irã até mesmo enviou uma carta oficial à Embaixada do Reino Unido pedindo explicações.
O Irã insiste em que, mais que a existência dos contatos, o mais importante são "os conteúdos" destes.
Enquanto isso, o regime de Teerã continuou demonstrando hoje seu descontentamento com a interferência de terceiros em uma questão que considera estritamente bilateral entre Irã e Reino Unido.
O porta-voz do ministério de Exteriores iraniano, Muhammad Ali Hosseini, criticou as declarações do presidente dos Estados Unidos, George Bush, e pediu a ele que "evite a retórica pouco inteligente e legalmente sem fundamento" em relação ao caso dos militares.
No sábado, Bush disse que Teerã teve um "comportamento indesculpável" na crise e se referiu aos britânicos como "reféns", termo que o Governo do Reino Unido evitou usar até o momento.
O porta-voz de Exteriores iraniano recomendou ao presidente dos EUA que "preste atenção ao que seu próprio Governo disse", referindo-se às declarações do subsecretário de Estado americano, Nicholas Burns, que, perante o Senado dos Estados Unidos, disse que o país não busca confrontar o Irã neste episódio.
Hosseini afirmou que, como disse Burns, qualquer declaração americana em apoio ao Governo britânico "pode piorar a situação" e, por isso, devem ser evitados comentários "ilegais e inapropriados".
Em Teerã se aguarda com expectativa a entrevista coletiva que o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, concederá na terça-feira (3) na capital do país. Este será o primeiro pronunciamento oficial do chefe do Governo iraniano desde que tiveram início as comemorações do ano persa, que começaram no dia 21 de março e terminam amanhã.
Além disso, seria o primeiro comparecimento perante a imprensa de Ahmadinejad após ter sido aprovada, em 24 de março, a última resolução da ONU que traz sanções ao Irã pelo fato de o país se negar a interromper seu programa de enriquecimento de urânio.No domingo, o presidente anunciou, sem dar mais detalhes, que os iranianos "receberão, em breve, boas notícias" sobre o desenvolvimento do programa nuclear do país.
