O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukiya Amano, disse neste sábado (6) que o ministro de Relações Exteriores do Irã não apresentou nenhuma nova proposta a ele sobre um possível acordo a respeito do combustível nuclear. "Não houve uma nova proposta. Estamos trocando avaliações", disse ele depois de um encontro a portas fechadas com o ministro iraniano Manouchehr Mottaki, paralela a um fórum sobre segurança em Munique, na Alemanha. "Eu não recebi uma contra-proposta.
Questionado se estava confiante sobre um avanço no acordo, Amano afirmou: "Nosso encontro cobriu uma variedade de áreas. Tivemos uma discussão muito interessante e, de minha parte, eu posso dizer no momento que o diálogo está continuando e deve ser acelerado."
Mottaki, por sua vez, disse que discutiu os detalhes da proposta de exportação de urânio com baixo enriquecimento (LEU, na sigla em inglês), mas não mencionou qualquer progresso tangível. "Eu pessoalmente vejo a situação como positiva para o alcance de um entendimento", afirmou o iraniano.
Aparentemente Teerã rejeitou em outubro um acordo proposto pela AIEA para o Irã enviar urânio para a França e a Rússia, para que o material seja transformado em combustível para um reator nuclear na capital iraniana.
Na terça-feira (2), o presidente do país, Mahmoud Ahmadinejad, inesperadamente disse que não teria "nenhum problema" em enviar parte do urânio para o exterior, embora não tenha dado detalhes sobre como seria um possível acordo. Três dias depois, o Ministro de Relações Exteriores do Irã, Manouchehr Mottaki, afirmou que o governo está "perto de um acordo final" sobre seu programa nuclear.
Ceticismo
A declaração recente do Irã de que estaria prestes a concluir um acordo que prevê a redução das atividades de enriquecimento de urânio no país foi recebida com ceticismo por autoridades dos Estados Unidos e da Europa, segundo as quais o discurso de Teerã ainda não foi acompanhado por ações concretas.
O ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle afirmou que a recente declaração de Mottaki não traz nada de novo e acrescentou que o Irã recebeu uma proposta razoável para colocar um fim no impasse com as potências ocidentais. "O Irã com armamentos nucleares é algo inaceitável para nós" e "levaria a uma desestabilização de toda a região", disse Westerwelle, em conferência com as principais autoridades de defesa do mundo em Munique
Já o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, afirmou durante uma visita a Ancara, na Turquia, que talvez seja a hora de adotar uma "tática diferente" com o Irã. "A realidade é que eles não fizeram nada para oferecer garantias à comunidade internacional" ou "para interromper o progresso (da construção) de uma arma nuclear". "Portanto, vários países precisam pensar se é hora de adotar uma tática diferente.
Sanções
A AIEA elaborou um acordo segundo o qual o Irã precisaria exportar 70% de seu estoque de urânio e esperar um ano para que esse material fosse devolvido como combustível para seu reator nuclear. O país não aceitou o acordo, argumentando que quer uma redução no prazo estipulado para a devolução do urânio. A Organização das Nações Unidas (ONU) estuda impor uma quarta rodada de sanções ao país para desestimular o governo a continuar com o programa nuclear.
Na sexta-feira (5), o ministro de Relações Exteriores da China, Yang Jiechi, disse aos participantes do fórum de Munique que o país acreditava na necessidade de paciência e de mais esforços diplomáticos para lidar com a situação do Irã. A China faz parte do Conselho de Segurança da ONU e tem poder de veto sobre eventuais sanções aos iranianos
A chefe de Relações Exteriores da União Europeia (UE), Catherine Ashton, afirmou que a resposta do Irã até agora não foi adequada. "Eu concordo com o ministro de Relações Exteriores da China de que as possibilidades de diálogo não foram exauridas, mas um diálogo requer duas partes", acrescentou.