O presidente iraniano, Hassan Rohani, declarou neste domingo (17) que é inaugurada uma nova página nas relações entre o Irã e o mundo, após a entrada em vigor do histórico acordo nuclear e o levantamento das sanções internacionais impostas durante anos ao seu país.
Este acordo, assinado em julho com as grandes potências, entrou em vigor no sábado (16) depois que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) – cujo chefe Yukiya Amano viaja neste domingo a Teerã – certificou que o Irã respeitou seu compromisso de garantir a natureza estritamente pacífica de seu programa nuclear.
Simultaneamente, ao calor deste acordo, Teerã e Washington esboçaram uma aproximação e anunciaram a libertação de quatro iraniano-americanos detidos no Irã, incluindo o jornalista do Washington Post Jason Rezaian, em troca de sete iranianos presos nos Estados Unidos.
Além de Rezaian, também deixaram neste domingo Teerã a bordo de um avião suíço com destino a Berna o pastor Said Abdeini, o ex-marine Amir Hekmati e um homem chamado Nosratollah Khosravi, indicou a televisão estatal.
Êxito
O acordo, negociado pelo Irã com o grupo de potências 5+1 (Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha), é considerado um dos maiores êxitos da política internacional do presidente americano, Barack Obama, e de seu colega Rohani.
“Nós, os iranianos, estendemos a mão ao mundo em sinal de paz e, deixando para trás todas as hostilidades, suspeitas e complôs, viramos uma nova página nas relações do Irã com o mundo”, declarou Rohani em uma mensagem à nação.
“O acordo nuclear não vai contra os interesses de nenhum país. Os amigos do Irã estão felizes, mas seus adversários não devem ficar inquietos. O Irã não é uma ameaça para nenhum país, é um porta-voz da paz, da estabilidade e da segurança na região e em todo o mundo”, acrescentou o presidente iraniano.
O acordo representa o início de uma aproximação entre Estados Unidos e Irã, que romperam suas relações em 1980. Mas também gera descontentamento entre os aliados tradicionais de Washington na região, como Arábia Saudita e Israel, que temem a influência da potência xiita.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reafirmou neste domingo a posição de Israel. “A política de Israel foi e permanecerá sem mudanças: não permitiremos que o Irã obtenha uma arma nuclear”, afirmou durante o conselho de ministros.
“Hora de construir o país”
Além de tentar tranquilizar o exterior, o presidente iraniano também quis calar críticas internas e destacou que “o acordo nuclear não representa a vitória de uma tendência política”, em uma mensagem aos meios ultraconservadores que se opõem a ele. “Agora que as sanções foram levantadas é hora de construir o país”, acrescentou.
Rohani também afirmou que os que eram céticos sobre os benefícios do acordo nuclear “estavam equivocados”.
“Apenas algumas horas depois da entrada em vigor do acordo, mais de 1.000 linhas de crédito foram abertas por diferentes bancos (estrangeiros), o que prova que os céticos estavam todos errados”, disse em uma coletiva de imprensa.
Economia
As sanções internacionais afetaram gravemente a economia do Irã, um país de 77 milhões de habitantes com grandes recursos petrolíferos e gasíferos.
Os meios econômicos internacionais estão prontos há vários meses para voltar ao Irã, que possui as quartas maiores reservas de petróleo do mundo e as segundas de gás. O Irã, um país da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), poderá voltar a exportar livremente seu petróleo.
Mas a perspectiva de um retorno do Irã a um mercado já saturado por uma oferta abundante, e com um preço do barril no chão, provocou neste domingo uma forte queda nas bolsas dos países petrolíferos do Golfo, em especial a da Arábia Saudita, a maior da região.
De qualquer forma, o acordo nuclear foi considerado em várias capitais uma vitória da diplomacia internacional, embora os Estados Unidos tenham destacado que permanecerão “vigilantes” para verificar que o Irã respeita seus compromissos nos próximos anos.
A República Islâmica do Irã sempre negou ter desejado obter uma bomba nuclear, mas reivindica seu direito em explorar seu setor nuclear com fins civis e pacíficos.