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O ataque sem precedentes desencadeado pelo grupo terrorista Hamas contra Israel, por terra, mar e ar, e que já provocou 700 mortes de israelenses e 400 de palestinos, teria sido planejado com semanas de antecedência e com envolvimento direto do governo do Irã.
Segundo o The Wall Street Journal, a ofensiva aconteceu após autoridades de Teerã darem “sinal verde” à operação que chocou o mundo, surpreendeu o governo de Tel Aviv e levou ondas de terror, sequestros e assassinatos a sangue frio nas ruas e casas de cidades judaicas próximas da Faixa de Gaza.
Os ataques terroristas teriam sido planejados por comandantes graduados dos grupos Hamas (palestino) e Hezbollah (libanês) em encontros desde o mês de agosto com agentes da Guarda Revolucionária do Irã em Beirute, no Líbano. Os iranianos teriam dado “sinal verde” para a matança na última reunião, semana passada.
Assim que o terror se instalou, o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, parabenizou “os combatentes palestinos” pelo ataque surpresa e garantiu apoio à operação “até a libertação da Palestina e de Jerusalém”. O governo americano disse que não há provas do envolvimento do Irã nos ataques, apesar de o secretário de Estado, Antony Blinken, ressaltar que "há certamente uma longa relação" entre os iranianos e o Hamas.
Numa resposta indireta, o porta-voz do Exército israelense, Daniel Hagari, disse que o país está “olhando para o Norte” e se encontra totalmente preparado para reagir a novas agressões. “Aqueles que nos atacarem de todo o Oriente Médio enfrentarão um ataque decisivo de volta”, afirmou.
Israel retira milhares de residentes vizinhos do conflito
No domingo, segundo dia dos conflitos, já em estado declarado de guerra, Israel lançou contraofensiva e enviou 50 caças para bombardear 800 alvos na Faixa de Gaza, ao mesmo tempo em que ainda contava mortos e feridos dentro de seu território e lutava para expulsar os últimos militantes do Hamas infiltrados. Moradores de treze comunidades vizinhas à Gaza foram orientados a ficar em suas casas, enquanto os militares fazem um pente-fino para encontrar terroristas ainda infiltrados. Nas próximas 24 horas, disse o porta-voz do Exército, a missão será limpar a área e “evacuar todos os residentes que vivem ao redor de Gaza”. Milhares de soldados já estão na região, que se transformou em um front de guerra.
Em represália aos ataques, o governo de Israel cortou já no sábado todo fornecimento de energia para a Faixa de Gaza, e o ministro de Energia alertou que “nada será como antes”. Jornais palestinos relatam que a falta de energia ameaça o atendimento nos hospitais, que funcionam à base de geradores e têm pouca reserva de combustível.
A estreita Faixa de Gaza, de apenas 365 km2, e dois milhões de habitantes, é uma das regiões mais densamente povoadas do mundo. Desde sábado, seus moradores vivem em um estado permanente de ansiedade e medo da crescente magnitude da resposta de Israel aos ataques terroristas do Hamas. Diante dos intensos bombardeios das últimas horas, pelo menos 20 mil moradores deixaram suas casas no Norte de Gaza e estão refugiados em 44 escolas, na esperança de que funcionem como um refúgio contra as bombas.
Segundo fontes palestinas, a contraofensiva de Israel, que destruiu prédios e instalações suspeitas de integrarem a logística de comando do Hamas, matou 413 pessoas e deixou mais de dois mil feridos. Do lado de Israel, o número de mortos já passa de 700 e o de feridos também é superior a dois mil.
Dezenas de reféns são usados como escudo em Gaza
Apesar de o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu prometer uma “vingança poderosa” contra os terroristas, e dizer que transformará os esconderijos do Hamas em escombros, a reação militar envolve uma estratégia delicada e difícil, já que os milicianos palestinos sequestraram e mantêm como reféns cerca de 130 israelenses, entre soldados e civis, incluindo idosos, mulheres e crianças. O Hamas informou que os israelenses raptados estão distribuídos em túneis e fortalezas por toda a Faixa de Gaza.
Muitos dos sequestrados participavam de uma edição local da festa brasileira de música eletrônica Universo Paralello, criada pelo DJ Juarez Petrillo, que sobreviveu aos ataques. Petrillo é pai do DJ Alok. Paramédicos israelenses informaram que foram recolhidos mais de 260 corpos do campo aberto no deserto onde acontecia a rave, em comemoração ao feriado judaico do Sucot, conhecido como Festa das Colheitas.
Em meio à escalada no conflito, a reunião de emergência do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), convocada pelo Brasil, que preside o organismo neste mês, terminou sem uma declaração conjunta dos países. A tônica neste momento, segundo o embaixador brasileiro Sérgio Danese, “foi no sentido de refletir sobre a necessidade de se voltar a um processo negociador o mais rapidamente possível”. A preocupação principal dos diplomatas está no risco de o conflito se espalhar.
Estados Unidos enviam "força de dissuasão" em apoio a Israel
Nos Estados Unidos, em Nova York, cerca de mil manifestantes pró-Palestina fizeram um protesto na Times Square, no que foi classificado pela governadora do estado Kathy Hochul como uma manifestação “abominável e moralmente repugnante”. Houve protestos pró-Palestina também em frente à Casa Branca, na capital americana, em Roterdã (Holanda) e em Karachi (Paquistão) Simultaneamente, o secretário de defensa norte-americano, Lloyd Austin, anunciou que o país enviará um porta-aviões com destroieres e mísseis teleguiados para dar apoio a Israel no Mar Mediterrâneo, além de esquadrões de caças para “reforçar postura de dissuasão, se necessário”.
Os israelenses estão se referindo aos ataques do último sábado como “nosso 11 de setembro”. Antes da reunião do Conselho de Segurança da ONU, o embaixador israelense para as Nações Unidas, Gilard Erdan, disse que não faz sentido agora falar em paz com uma organização cujo único objetivo é destruir Israel. No passado, disse ele, “ninguém falava sobre alcançar um acordo de paz com a Al-Qaeda ou o Estado Islâmico”. “O que estamos vendo são crimes de guerra flagrantes e bárbaros: assassinam civis, abusam de reféns, tiram bebês das mães”, completou.
Na Colômbia, o presidente esquerdista Gustavo Petro está sendo duramente criticado após ter comparado os israelenses a neonazistas. “Se tivesse vivido na Alemanha em 1933, teria lutado ao lado dos judeus. E se tivesse vivido na Palestina em 1948, teria lutado ao lado dos palestinos. Agora os neonazistas querem a destruição do povo palestino, da liberdade e da cultura”, escreveu na rede social X.
O governo brasileiro, também de esquerda, condenou os ataques a Israel, mas não citou o Hamas, responsável pela investida e que, em 2022, mandou congratulações ao presidente Lula pela vitória na eleição. O ex-chanceler Celso Amorim, atual assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, assinou um prefácio de um livro que exalta o "lado diplomático" do Hamas, que, segundo Amorim, "tem um papel central na restauração dos direitos palestinos".