O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad escolheu os últimos minutos de um pronunciamento que durou mais de hora, na quarta-feira, para anunciar que libertaria os 15 marinheiros britânicos presos no Irã desde 23 de março, acusados de romper a linha marítima que separa o país do Iraque. O seqüestro, a princípio tratado com discrição pelo Reino Unido, transformou-se numa crise internacional que lembrou, a muitos observadores, outro seqüestro mais longo, mais traumático, mais drástico: aquele que manteve presa e incomunicável toda a missão diplomática americana em Teerã, em 1979.
O jornalista Mark Bowden, repórter da revista The Atlantic Monthly, é um dos maiores conhecedores do episódio. No ano passado, lançou "Guests of the Ayatollah" ("Hóspedes do Aiatolá"), livro que relata essa história dramática. Pouco mais de um mês após a revolução que derrubou a monarquia do xá, um grupo de estudantes invadiu a embaixada dos EUA. Eles mantiveram os diplomatas dentro do prédio como reféns entre novembro de 79 e janeiro de 81. As negociações, muito lentas, sempre tensas, custaram ao então presidente americano, Jimmy Carter, sua reeleição. Foi Bowden quem confirmou, a partir das memórias inseguras dos reféns de então e de fotografias que encontrou no Irã, que o presidente Ahmadinejad foi um dos líderes daquele seqüestro. "Ele continua exatamente o mesmo homem que era: radical, fiel a Deus, provocador "
Provocação
Para Bowden, também autor do best-seller "Falcão Negro em Perigo", que inspirou o filme de mesmo nome dirigido por Ridley Scott, a provocação é uma das características do regime teocrático implantado no Irã pelo aiatolá Ruhollah Khomeini.
É um país que se aproveita da atenção que seus atos inspiram na imprensa estrangeira para pressionar governos inimigos e conseguir facilidades. Mas, diferentemente de como era em 1979, agora o regime está desgastado. O povo anseia por abertura e reatamento das relações com o Ocidente. Astuto, o clero concentra o poder no Irã, mas flerta com momentos de abertura para saciar o povo e depois enrijecer novamente.
O seqüestro dos marinheiros britânicos acontece num destes momentos de recrudescimento. Desde a queda de Saddam no Iraque, o Irã busca expandir sua influência na região. Veja abaixo depoimentos de Mark Bowden sobre temas iranianos.