As notícias sobre a agenda de visitas do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad a alguns países da América Latina na última semana foram ofuscadas por outras manchetes envolvendo o país.
O norte-americano de origem iraniana, Amir Mirzai Hekmati, foi condenado à morte pelo tribunal revolucionário de Teerã por espionagem. A Agência Internacional de Energia Atômica confirmou que o Irã faz enriquecimento de Urânio a 20% na usina de Fordo, que poderia ser utilizado para uma arma nuclear. E, na última quarta-feira, o cientista iraniano Mostafa Ahmadi-Roshan foi morto em um atentado com bomba.
Depois das mortes de Osama bin Laden e de Muamar Kadafi e da retirada das tropas norte-americanas do Iraque no mês passado, o país de Ahmadinejad se destaca entre os "inimigos" do Oriente Médio. "O sistema capitalista sempre pressupõe o adversário, o ponto antagônico. A bola da vez vai ser o Irã", diz o professor de Direito Internacional Luiz Alexandre Carta Winter, do Centro Universitário Curitiba Unicuritiba.
A ameaça de produção de armamento nuclear é apresentada por Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e países da União Europeia como justificativa para o aumento de sanções contra o Irã, como fizeram na última semana.
Márcio Scalercio, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUCRJ), explica que o Irã é signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, o que pressupõe um comprometimento maior do país de Ahmadinejad. Mas ele considera que a paz do Oriente Médio depende também de Israel que, mesmo sem ser signatária do tratado, "também precisa colocar o arsenal na mesa".
Além da questão nuclear, os desentendimentos com grandes potências vêm de um dos bens mais disputados do mundo. O país chegou a ser invadido pelo Reino Unido e pela União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial por causa da exploração de petróleo.
No livro O Petróleo e o Envolvimento Militar dos Estados Unidos no Golfo Pérsico (Unesp, 2008), o doutor em Ciência Política Igor Fuser afirma que, nos anos 1950, "o Irã era o maior produtor de petróleo do Oriente Médio, mas sua população vivia na miséria".
O Estreito de Ormuz, que já foi motivo de guerra com o Iraque, é mais uma razão para o aumento das tensões. O Irã ameaça fechá-lo, o que afetaria diretamente o escoamento de produtos do Golfo Pérsico. Em resposta, navios da marinha norte-americana transitam na região e fiscalizam a ação dos iranianos, que, fazem testes com mísseis.
Guerra ideológica
A Revolução do Irã, no fim da década de 1970, é considerada uma reação à exploração das grandes potências, mas não se tornou sinônimo de liberdade para o povo nem mesmo no discurso. "A revolução iraniana é um marco do século 20. Foi o contrário das outras, como a Revolução Cubana ou a Russa. Todas trouxeram alternativas ao sistema vigente, algo novo. A Revolução do Irã é teocrática, é um retorno à estrutura do passado", observa Winter.
Scalercio também ressalta a questão política. "As relações com o Ocidente vêm se tornando muito ruins desde 1979, especialmente com os EUA. Há divergências bastante contundentes entre as visões de mundo, que vão se acumulando ao longo dos anos", diz o professor da PUCRJ.
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Passado
Confira alguns fatos importantes na história recente do Irã:
1935 O xá Reza Palevi decreta que a Pérsia passa a se chamar Irã.
1979 Com a revolução iraniana, o país deixou de ser uma monarquia pró-Ocidente e se transformou em uma república islâmica xiita. O aiatolá Ruhollah Khomeini se tornou a autoridade máxima do país. O presidente é eleito por votação, mas tem poderes limitados. As principais decisões são tomadas pelo aiatolá e pelo clero islâmico.
1980 Guerra contra o Iraque, que era governado na época por Saddam Hussein e contava com o apoio dos EUA. O conflito durou oito anos. Estavam em disputa questões políticas e territoriais, como áreas no Estreito de Ormuz.
1989 O aiatolá Khomeini morre e é substituído pelo aiatolá Ali Khamenei.
2005 Mahmoud Ahmadinejad é eleito presidente do Irã. Ele substituiu Hojjat ol-Eslam, mais moderado.
2009 Ahmadinejad se reelege com suspeitas de fraude.