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Londres – O que há em comum entre Arábia Saudita, Bielo-Rússia, China, Coréia do Norte, Cuba, Egito, Irã, Mianmar, Síria, Tunísia, Turcomenistão, Usbequistão e Vietnã? Todos são apontados pela organização não-governamental Repórteres Sem-Fronteiras como países cujos governos cerceiam a liberdade de expressão na Internet. Alguns são os suspeitos de costume, mas é interessante observar o socialismo certinho de Cuba no mesmo grupo de nações mais ameaçadoras para o Ocidente, como a Coréia do Norte.

É o caso do Irã, contudo, que vem chamando a atenção nos últimos tempos. O governo iraniano é um consistente opositor da liberdade na internet – ou, mais precisamente, de qualquer liberdade. Apesar dos esforços do governo, o farsi, língua oficial do Irã, está entre os dez idiomas mais usados na web, um reflexo de um extraordinário fenômeno: o modo como os iranianos, especialmente as mulheres, usam a rede mundial para combater o controle do governo sobre a mídia convencional.

O fenômeno parece ter tomado impulso em 2001, quando o governo linha-dura fechou mais de cem veículos, entre jornais e revistas, detendo seus redatores. Naquele ano, Hossein Derakhshan, um iraniano expatriado, postou na internet, em farsi, instruções para montagem de blogs. Desde então, a moda dos diários virtuais cresceu enormemente entre os iranianos.

Não é possível fazer quantificações precisas, mas estima-se que haja entre 70 mil e 100 mil blogs ativos mantidos por iranianos, a grande maioria em farsi.

O fato leva a duas observações. A primeira: o tom vibrante dos blogs revela algo importante sobre a sociedade que não é visível pelo prisma da mídia controlada pelo governo nem pelas bravatas do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Há muita dissidência e boa parte dela – garantem os que entendem o farsi – é viva, subversiva e ingênua. Outra observação: é melhor questionar a visão fútil e auto-indulgente dos blogueiros, mas no momento eles são o único canal de livre expressão do Irã. A comunidade blogueira do Irã continua crescendo, apesar dos esforços concentrados do governo para esmagá-la.

De acordo com a Opennet Initiative, um consórcio internacional que monitora atividades na internet, o Irã faz parte de um grupo crescente de países que aposta no desenvolvimento de softwares comerciais capazes de filtrar a comunicação na rede mundial.

"O Irã tem popularizado o uso comercial do sistema SmartFilter, criado pela companhia norte-americana Secure Computing, como uma primeira ferramenta técnica para barrar comunicações indesejáveis na internet", diz um relato da Opennet.

O software é capaz de bloquear o acesso de usuários do Irã a sites de língua inglesa. O SmartFilter é utilizado pelo governo de Teerã com total falta de transparência. Cabe aos burocratas de Teerã decidir a qual material os cidadãos terão ou não acesso e informar essas decisões diretamente à companhia norte-americana, que passa, portanto, a ser cúmplice do autoritarismo iraniano.

Tradução: Sandra Gonçalves

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