Bagdá As três principais forças políticas do Iraque sunita, xiita e curda começarão a discutir amanhã um projeto de lei sobre o federalismo, que daria maior autonomia às regiões do país, informaram ontem fontes parlamentares.
O vice-presidente do Parlamento, xeque Khaled al-Atia, informou sobre o acordo entre os grupos políticos para lançar esse debate e disse que, caso seja aprovada, a lei será aplicada um ano e meio depois de sua promulgação.
Ameaça
O acordo acorre após a ameaça da Frente do Consenso Iraquiano (FCI), que representa os árabes sunitas, de boicotar o governo caso as coalizões xiita e curda do Parlamento não apliquem a cláusula 142 da Constituição, que permite a modificação de alguns de seus artigos.
Entre os artigos que a cláusula permite modificar estão, precisamente, os que fazem referência ao federalismo, além daqueles que ordenam o afastamento das pessoas que pertenceram ao ex-governante Partido Baath, além da distribuição das receitas provenientes dos recursos naturais.
No final de julho, Abdel Aziz al-Hakim, líder da xiita Aliança Unida Iraquiana (AUI), força política com maior representação parlamentar, insistiu na "necessidade" de criar uma região autônoma para os xiitas no sul do Iraque.
Esse desejo foi duramente criticado por partidos políticos sunitas, que consideram o federalismo uma ameaça à unidade do país.
A discórdia entre xiitas e sunitas, dois ramos do islamismo, é a sustentação da guerra civil que o país enfrenta desde a queda do regime de Saddam Hussein, em 2003. Os sunitas sentem-se acuados pela maioria xiita que agora pode expressar-se livremente e deixar para trás os anos de perseguição registrados na era Saddam, marcada pela supremacia sunita.
A minoria curda, que vive no norte do país, também tem representação no governo e luta para fazer valer direitos que não eram reconhecidos na era Saddam.