Depois de quatro meses de impasse, o Iraque tem um novo primeiro-ministro. O xiita Jawad al-Maliki foi designado para liderar o novo governo de união nacional. O convite foi feito neste sábado, durante a segunda reunião do Parlamento iraquiano desde as eleições de dezembro, que contou com a presença de 266 dos 275 deputados que integram a Assembléia. A reunião designou os ocupantes dos principais cargos da nova administração. O curdo Jala Talabani foi reeleito para um segundo mandato como chefe de estado; o sunita Mahmud Al Mashadani foi escolhido para presidência do Parlamento.
A formação do novo governo de união nacional põe fim na crise política que paralisou o país criando um vazio de poder. O impasse foi provocado pela indicação, pela Aliança Xiita, do atual primeiro-ministro, Al Jaafari, para a chefia do governo. A candidatura dele sofria oposição dos Estados Unidos, dos curdos e dos sunitas, que o acusam de ter sido incapaz de conter onda de violência e de restabelecer serviços básicos no país arrasado pela guerra. Al Jaafari desistiu de permancecer à frente do governo na última quinta-feira, abrindo caminho para a solução do impasse.
Membro do mais antigo partido Islâmico do Iraque, Maliki procurou, antes da sessão parlamentar marcada para este sábado, minimizar sua imagem de xiita linha-dura e se apresentar como um homem capaz de unir xiitas, árabes sunitas e curdos. Em entrevista coletiva realizada em Bagdá, Maliki disse que a sua administração vai se apoiar na fraternidade real entre todos os grupos do país.
- Vamos formar uma família que não estará baseada nas nossas origens étnicas ou sectárias - afirmou. - Trabalharemos para aprimorar a capacidade e a eficiência das forças de segurança para controlar a segurança - disse.
Maliki também se comprometeu a enfrentar de frente os desafios políticos e econômicos do país, além de combater o terrorismo e a corrupção.
Como líder do primeiro governo iraquiano após a queda de Saddam Hussein, ele terá que enfrentar as tarefas monumentais de dominar a insurgência, diminuir os conflitos sectários, desmontar as milícias e recuperar a economia. Ele terá um mês para formar seu gabinete, com autoridades responsáveis por ministérios poderosos como Interior, Defesa e Petróleo - o que também exigirá duras negociações.
Os líderes sunitas acusam o Ministério do Interior, controlado pelos xiitas, de formar esquadrões da morte para perseguir sunitas. Assim, deve haver uma longa batalha sobre o controle dessa pasta. Os xiitas negam a existência dos esquadrões da morte.
Maliki é um xiita linha dura do Partido Dawa que pressionou pela execução de rebeldes sunitas que mataram iraquianos e pela expulsão de ex-membros do partido Baath, de Saddam, do governo. Ele é considerado um político sectário, mas líderes sunitas afirmaram que o aceitarão.
O apoio dos líderes sunitas é vital, já que os rebeldes recebem apoio dessa minoria. Os árabes sunitas detinham o poder durante o governo de Saddam Hussein, mas, atualmente, a maioria muçulmana xiita controla o governo.
- Percebemos em suas declarações antigas que ele tem princípios sectários. É errado dizer que não devemos temê-lo. Mas pedimos que ele aprenda com as lições do passado recente - disse Hussein al-Falluja, do principal bloco árabe sunita. - Ele tem muitas características positivas. Durante as negociações sobre a redação da constituição, ele ressaltou a unidade do Iraque e a necessidade de distribuir os recursos de forma justa.
A violência sectária explodiu desde o atentando a bomba de um tempo xiita em fevereiro, provocando retaliações e contra-retaliações. Neste sábado, a política encontrou 12 corpos em diversos pontos de Bagdá. Tais assassinatos são comuns no Iraque, onde já apareceram centenas de cadáveres com marcas de tiros e sinais de tortura.
Três anos após a invasão das tropas americanas, os iraquianos estão desiludidos com a classe política, já que atentados a bombas, tiroteios, sequestros e crimes assolam o país.
Maliki, que viveu durante anos exilado no Irã xiita e na Síria durante o governo de Saddam, terá de provar aos céticos iraquianos que é capaz.