No dia mais sangrento no Iraque desde março de 2008, dois militantes suicidas em ataques separados detonaram nesta quinta-feira (23) os cinturões de explosivos que carregavam atados ao corpo. Ao todo, pelo menos 78 pessoas morreram e centenas ficaram feridas. A primeira explosão ocorreu em Bagdá, quando funcionários do Crescente Vermelho distribuíam alimentos a civis xiitas. A segunda, em um restaurante da Província de Diyala, ao norte da capital.
Embora os Estados Unidos tenham se comprometido a iniciar uma retirada gradual do Iraque já nos próximos meses, uma revitalizada onda de ataques suicidas atinge a capital e o norte do país desde o fim de 2008. Segundo os planos de Washington, todos os seus militares terão deixado o território iraquiano até 2011.
Suspeita-se que sunitas ligados à Al-Qaeda estejam por trás das ações desta quinta.
Uma testemunha afirmou que o primeiro ataque, no bairro xiita de Karradah, em Bagdá, foi perpetrado por uma mulher vestida de acordo com os padrões islâmicos. Pelo menos 31 pessoas morreram e 51 ficaram feridas após a militante se infiltrar em uma fila de civis que recebiam auxílio humanitário.
"(Depois da explosão) corri para encontrar meus parentes que buscavam comida, mas não achei ninguém", lamentava sentada na calçada Shanoon Humoud, senhora de 70 anos. Ela perdeu o marido, um filho e dois netos na explosão.
A destruição provocada pela militante espalhou pelo asfalto restos de comida, capacetes de policiais que estavam no local, sangue e carne humana.
O segundo ataque aconteceu em um restaurante lotado de Muqdadiyah, na Província de Diyala, a 90 quilômetros ao norte de Bagdá. Pelo menos 47 morreram e 59 ficaram feridos quando os explosivos foram detonados. Entre as vítimas, em sua maioria peregrinos xiitas, estariam 35 iranianos, informou a TV estatal do Irã. Outros 60 ficaram feridos.
Milhares de mortos
Pelo menos 87.215 iraquianos perderam a vida desde 2005 por causa da violência, segundo um relatório secreto do governo do Iraque ao qual a Associated Press teve acesso.
A contagem de vítimas registrada pelo Ministério da Saúde, fornecida por um funcionário do governo com a condição de que seu nome não fosse divulgado, contabiliza os mortos no período que vai do início de 2005 a 28 de fevereiro.
O total, porém, exclui milhares de desaparecidos e de civis enterrados no caos da guerra sem registro oficial. A cifra registra exclusivamente as mortes violentas: pessoas assassinadas em ataques a tiros, explosões de bombas, disparos de morteiro e decapitações - prática recorrente no Iraque.
Segundo o grupo independente com sede na Grã-Bretanha Iraqi Body Count, desde o início da invasão liderada pelos EUA, em 2003, o número de mortos em ataques chega a 110 mil. A cifra tem como base notícias de jornais, já que as estatísticas referentes aos anos de 2003 e 2004 não são confiáveis.
Estima-se que, em 2008, o número de militares americanos mortos foi de 314. No ano anterior, entretanto, a cifra atingiu 904. No total, o grupo independente iCasualties coloca em 4.275 o número de soldados dos EUA que morreram desde o início da guerra, em 2003. Somando as demais baixas da coalizão, foram 4593 mortos.
Em comparação, na guerra do Afeganistão, iniciada em 2001, 679 militares americanos morreram. Com os demais países da coalizão, o número chega a 1.133. As informações são da Associated Press.