Sapato pendurado e cartaz que diz “Fora EUA”: jornalista que protestou contra presidente americano recebe apoio de iraquianos| Foto: Reuters

Cultura árabe

Atirar sapato é insulto grave

Para os árabes, o ato de atirar sapatos implica um insulto gravíssimo. No mundo muçulmano, os calçados são sinônimo de imundície, sujeira. Nas mesquitas, os fiéis são proibidos de entrar com sapatos. Um outro Bush, o pai, já havia sido alvo de um ato envolvendo sapatos no Iraque. Um mosaico com o resto dele fora construído na porta de entrada do Hotel Rashid, em Bagdá. Dessa forma, pisando sobre a figura do ex-presidente, os iraquianos se vingavam dos supostos "crimes de guerra" cometidos por ele durante o conflito do Kuwait, em 1991.

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O jornalista al-Zaidi, que já foi seqüestrado por xiitas
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Bagdá - Um funcionário do governo iraquiano informou ontem que Muntadar al-Zeidi, o repórter que jogou seus sapatos no presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, está detido – e milhares de pessoas foram às ruas pedir sua libertação. Muitos na região viram a sapatada como um ato heróico que expressou o desprezo profundo que muitos árabes sentem pelo presidente americano, culpado por anos de carnificinas, caos e o sofrimento dos civis.

"Esse é um beijo de despedida, seu cachorro", disse Al-Zeidi em árabe ao lançar os sapatos. "Isso é pelas viúvas, pelos órfãos e aqueles que foram mortos no Iraque."

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Al-Zeidi é correspondente do canal de televisão Al-Baghdadia, de propriedade iraquiana e com sede em Cairo, no Egito. "Este é o fim", gritou o jornalista antes de arremessar os sapatos no presidente americano.

O jornalista, submetido a testes para detectar a presença de álcool e drogas, foi seqüestrado no ano passado por militantes xiitas. Com 28 anos, é xiita e é solteiro. Ontem seus três irmãos e a irmã mostraram a simples quitinete onde ele vive no oeste de Bagdá e manifestaram orgulho pela ação do irmão, embora também medo sobre o que possa acontecer na polícia. O apartamento é decorado com pôsteres do guerrilheiro latino-americano Ernesto Che Guevara, que é muito admirado no Oriente Médio. Se condenado, Al-Zeidi poderá passar dois anos na prisão, ou receber uma pena mais leve, como o pagamento de multa.

A emissora em que o repórter trabalha, a Al-Baghdadia, fez repetidos apelos pela liberação do jornalista. A Al-Jazira entrevistou o ex-advogado de Saddam Hussein Khalil al-Dulaimi, que se ofereceu para defender Al-Zeidi, qualificando-o como "herói".

Afeganistão

Mais tranqüila foi a visita-surpresa de Bush ao Afeganistão, onde ele confirmou o apoio americano ao presidente afegão e afirmou que a luta contra os terroristas no país é essencial.

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"Quero estar no Afeganistão para dizer obrigado ao presidente (Hamid) Karzai, para fazer o povo afegão saber que os Estados Unidos estão por trás deles e que assim permanecerão", afirmou.