A violenta repressão e o pedido de renúncia apresentado na segunda-feira pelo governo interino civil do Egito não afastaram os manifestantes da Praça Tahrir, no Cairo, onde se concentram nesta terça-feira. Ativistas de diversas organizações que tiveram papel de liderança na derrubada de Hosni Mubarak convocaram para esta tarde uma "marcha de um milhão". Mas a Irmandade Muçulmana, principal grupo da oposição, não participará do protesto.
O objetivo é "evitar mais enfrentamentos". Saad al Katany, secretário-geral do Partido Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade, disse também nesta terça-feira que a organização aceitou participar de uma reunião convocada pelo Conselho Supremo das Forças Armadas - que comanda o país desde a renúncia de Mubarak, em fevereiro.
A Irmandade Muçulmana havia culpado o governo militar na segunda-feira pela violência que tomou o Egito a uma semana das eleições parlamentares da próxima segunda-feira. A organização acusou o conselho militar de desrespeitar "todos os valores humanos, religiosos e patrióticos", alertando que a revolução que encerrou o regime ditatorial pode se levantar novamente.
Militares buscam acordo antes de aceitar renúncia do Gabinete civil
Com a marcha desta terça, grupos como a Coalizão da Juventude Revolucionária e o movimento 6 de abril querem pressionar o governo militar a ceder rapidamente o poder a líderes civis. Segundo uma fonte das Forças Armadas, a junta quer chegar a um acordo sobre um novo primeiro-ministro antes de aceitar a renúncia do Gabinete que era liderado pelo interino Essam Sharaf e apresentou sua renúncia.
Desde sábado, quando as manifestações contra o governo militar detonaram uma onda de violência, pelo menos 33 pessoas morreram e mais de 1.700 ficaram feridas. Cerca de 20 mil pessoas permaneceram na Praça Tahrir ao longo da última noite, apesar da repressão da polícia e do Exército. A violência promoveu cenas que lembram janeiro e fevereiro, quando Mubarak não resistiu a 18 dias de protestos.
No início desta terça-feira, havia algumas centenas de pessoas na Praça Tahrir. A pequena aglomeração já fazia barulho, cantando "o povo quer a queda do marechal". O alvo era Mohamed Hussein Tantawi, ministro da Defesa de Mubarak por duas décadas e comandante do Conselho Supremo das Forças Armadas.
O governo militar lamentou na segunda-feira as mortes nos protestos e chegou a baixar um decreto que bane da vida política por cinco anos os condenados por corrupção. A lei poderia tirar da corrida eleitoral alguns membros do antigo regime do ditador, mas foi considerada insuficiente pelos manifestantes. Eles exigem que todas as pessoas ligadas a Mubarak fiquem fora da corrida eleitoral.
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