A Irmandade Muçulmana conquistou a maioria das vagas parlamentares em disputa no segundo turno da eleição distrital egípcia, disseram as autoridades na quarta-feira (7), num resultado que consolida o favoritismo do grupo islâmico nas várias etapas do processo eleitoral.
A apuração indica que o eleitorado liberal acabou votando no moderado Partido Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade, para evitar a vitória do partido ultraconservador Al Nour, ligado ao movimento islâmico salafista.
A perspectiva de que políticos islâmicos assumam o poder no mais populoso país árabe causa preocupação nos Estados Unidos, que são um importante aliado ocidental do Egito, e em Israel, que espera preservar seu histórico tratado de paz com o país vizinho.
A junta militar que governa o Egito desde a deposição do presidente Hosni Mubarak, em fevereiro, pretende continuar no poder até a eleição de um novo presidente, em junho de 2012. Não está claro que força um Parlamento legitimado pelo voto popular terá para confrontar os militares.
Críticas
Num esforço para aplacar as críticas sobre a demora na transição, a junta entregou na quinta-feira alguns poderes presidenciais ao novo primeiro-ministro, Kamal al Ganzouri, cujo gabinete tomou posse na quinta-feira.
A composição exata do novo Parlamento só será conhecida ao final da última etapa da eleição, em janeiro. Mas já está claro que o PLJ terá a maior bancada.
O grupo venceu 24 de 44 disputas distritais que haviam ido para segundo turno, e seus aliados conquistaram outras 4 dessas vagas. A apuração em oito distritos foi suspensa devido a contestações judiciais, mas o PLJ deve vencer em seis deles.
Já o Al Nour ganhou apenas quatro vagas adicionais, e outro partido salafista conquistou duas cadeiras. As vagas restantes foram divididas de modo mais ou menos equilibrado entre partidos liberais e candidatos independentes.
O comparecimento nesta etapa foi de apenas 39 por cento do eleitorado, bem abaixo dos 52 por cento registrados na primeira etapa da votação, no mês passado. A queda sugere uma possível frustração do eleitorado liberal com o bom desempenho inicial dos partidos islâmicos.
Coalizão
Embora o PLJ e o Al Nour sejam partidos religiosos, é improvável que eles formem uma coalizão para governar. A Irmandade Muçulmana, que passou décadas proscrita sob o governo de Mubarak, tem enfatizado sua adesão a uma agenda reformista partilhada por vários grupos ligados à revolução que derrubou Mubarak.
O Al Nour, por outro lado, prega a imposição de uma versão mais rígida da sharia (lei islâmica), o que poderia incluir a proibição do biquíni nas praias frequentadas por estrangeiras e o veto à comercialização de bebidas alcoólicas.
Pelo complexo sistema eleitoral egípcio, dois terços das 498 vagas parlamentares serão distribuídas conforme um sistema de votação em listas partidárias. As demais vagas são escolhidas em disputas distritais, envolvendo candidatos individuais.
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