O irmão do papa Bento XVI disse em entrevista a um jornal, publicada nesta terça-feira, que esbofeteou alunos como punição após ter começado a dirigir um renomado coral de meninos nos anos 1960. Ele também disse que estava ciente das acusações de abusos físicos numa escola primária ligada ao coral, mas não fez nada sobre isso.
O reverendo Georg Ratzinger, de 86 anos, disse que não soube das acusações de abuso sexual contra integrantes do coral de meninos de Regensburger Domspatzen, parte de uma série de acusações de abusos sexuais cometidos por funcionários da igreja na Europa que surgiram nos últimos dias.
Respondendo às acusações de que suas políticas encorajaram o silêncio sobre o problema, o Vaticano disse que o escândalo de abusos sexuais na Alemanha e em outros países eram causa de angústia, mas que sua resposta foi imediata e transparente.
O escândalo, que atingiu instituições da igreja em muitos países europeus, continuou se alastrando nesta terça-feira.
Na Áustria, o líder de um monastério Beneditino de Salzburgo admitiu ter abusado sexualmente de uma crianças décadas atrás e deixou o cargo. Bispos católicos holandeses anunciaram uma investigação independente sobre mais de 200 acusações de abuso sexual de crianças por padres em escolas religiosas e pediu desculpas às vítimas.
Os casos na Alemanha são particularmente sensíveis porque o país é a terra natal do papa e porque os escândalos envolvem o famoso coral que foi dirigido por Georg Ratzinger de 1964 a 1994.
Na semana passada, a diocese de Regensburg disse que um ex-cantor do coral disse ter sido vítima de abusos sexuais no início da década de 1960. Em toda a Alemanha, mais de 170 estudantes afirmaram que foram sexualmente abusados em escolada católicas secundárias.
Ratzinger disse várias vezes que as acusações de abuso sexual datam de um período anterior à sua atuação como diretor do coral Perguntado se sabia que isso acontecia, ele afirmou que não.
"Essas coisas nunca eram discutidas", disse Ratzinger à edição desta terça-feira do jornal alemão Passauer Neue Presse German. "Nunca se falou sobre o problema de abuso sexual que agora vêm à luz."
Jakob Schoetz, porta-voz da diocese de Regensburg, disse à Associated Press que Ratzinger não fará novos comentários sobre o assunto.
Há também relatos de espancamentos feitos pelos administradores de duas escolas primárias ligadas ao coral, uma em Etterzhausen e outra em Peilenhofen. Um diretor, identificado como Johann M., que dirigiu a escola de Etterzhausen entre 1953 e 1992, foi alvo de várias acusações.
Ratzinger disse que os meninos teriam dito a ele se fossem destratados em Etterzhausen. "Mas eu não senti, naquela época, que eu deveria fazer algo sobre isso. Se eu soubesse da exagerada crueldade que ele estava usando, teria dito algo", disse ele ao jornal alemão. "Obviamente, hoje em dia, tais ações são condenáveis", disse Ratzinger. "Eu também as condeno. Ao mesmo tempo, peço perdão às vítimas".
Ele disse também ter administrado punição corporal. "No começo eu dava uns tapas na cara, mas me sentia mal sobre isso", disse Ratzinger, acrescentando que ficou feliz quando a punição corporal tornou-se ilegal em 1980.
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