A demonstração de poderio aéreo dos EUA na Coreia do Sul causa apenas leve preocupação na China, num sinal de que Pequim culpa a aliada Coreia do Norte pela atual tensão na região, e considera que um conflito armado não é iminente. A presença militar dos EUA em lugares como a Coreia do Sul e o Japão tradicionalmente preocupa o governo chinês, temeroso de ficar cercado e "contido" por Washington e seus aliados, especialmente depois do "giro estratégico" dos EUA na direção da Ásia.
O uso de aviões B-2 e F-22 indetectáveis por radares em exercícios conjuntos com a Coreia do Sul deixou os EUA praticamente às portas da China em termos militares, mas não gerou nenhuma reação forte de Pequim, além de um genérico pedido de calma e moderação.
Da mesma forma, a China já havia reagido com tranquilidade no mês passado ao anúncio de que os EUA iriam reforçar sua defesa antimísseis por causa das ameaças norte-coreanas. "Todas essas novas sanções por parte dos EUA não têm a China como alvo", disse Ni Lexiong, especialista em assuntos militares da Universidade de Ciência Política e Direito de Xangai. "Não há ameaça possível à China."
Outro especialista chinês em assuntos militares disse, pedindo anonimato, que a China considera que a presença militar reforçada dos EUA na Coreia era uma medida necessária para conter a ameaça norte-coreana, e que por isso não houve críticas.
Nos sites chineses, críticas são frequentes -- não contra os EUA, e sim contra o líder norte-coreano, Kim Jong-un, tratado como "Gordinho Kim" ou "Gordinho Terceiro", por ser o sucessor do seu avô e do seu pai como dirigente do recluso regime comunista.
A maioria acusa Kim de estar levando seu país a um desastre, além de deixar a região perto de uma guerra. "Gordinho Kim, enquanto você fica jogando, as pessoas estão morrendo de fome", escreveu um usuário do site Sina Weibo, espécie de Twitter chinês.
Mas críticas incisivas demais à Coreia do Norte podem acarretar consequências na China. O jornal sul-coreano Chosun Ilbo disse na segunda-feira que um editor da publicação chinesa Study Times foi suspenso depois de argumentar, em artigo no Financial Times, que a China deveria abandonar a Coreia do Norte.
Para muitos, porém, a situação não é de preocupação. Uma pesquisa realizada no fim de semana na internet pelo tabloide Global Times mostrou que 80 por cento dos participantes não consideram séria a situação da península da Coreia -- apesar das ameaças norte-coreanas de atacar os EUA e a Coreia do Sul em retaliação por recentes sanções da ONU.
"Não é a primeira vez que a Coreia do Norte usa termos tão fortes. Eles costumam dizer isso. Acho que eles provavelmente estão jogando um jogo. Tem a ver com o tipo de pessoa que Kim Jong-un é, e com sua idade (cerca de 30 anos)", disse Jia Qingguo, professor de relações internacionais da Universidade de Pequim. "Realmente não acho que eles irão recorrer ao uso de armas. A possibilidade é muito pequena."
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