A estátua de Dirgantara, um dos vários monumentos influenciados pelos comunistas em Jacarta, na Indonésia| Foto: KEMAL JUFRI/NYT

Quando islâmicos linha-dura marcharam pelo parlamento da Indonésia para protestar contra o que consideram uma influencia crescente do comunismo, dificilmente poderiam ter escolhido um lugar mais irônico para se reunir – perto do Estádio Gelora Bung Karno.  

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Inaugurado em 1962, o estádio foi construído com dinheiro soviético.  

Já o Monumento Nacional de Jacarta, onde centenas de milhares de islâmicos linha-dura realizaram manifestações em 2016 exigindo que o governo cristão da capital fosse linchado por blasfêmia, foi inspirado na arquitetura soviética.  

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Assim como o Monumento de Boas-Vindas, uma estátua cercada por uma grande fonte na maior rotatória de Jacarta, e a Estátua dos Heróis, em que uma mãe oferece alimentos para um jovem camponês que se prepara para a guerra – um símbolo da luta da Indonésia pela independência dos holandeses.  

A Estátua dos Heróis, em Jacarta, Indonésia. O presidente fundador da Indonésia, Sukarno, era um antigo arquiteto apaixonado por monumentos soviéticos 

Todas essas estruturas são exemplos de monumentos influenciados pelos comunistas espalhados por toda a cidade, parte do legado do presidente fundador da Indonésia, Sukarno, que ficou no poder entre 1945 e 1967 e liderou o movimento de independência do país.  

Sukarno, ex-arquiteto que adotou políticas socialistas, tinha atração por monumentos de estilo soviético. Nos anos 1950 e 1960, sua visão da capital incluía avenidas largas e estátuas imensas para mostrar a grandeza da nova nação.  

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"Ele possuía essa obsessão com -a grande cidade-", explica Bambang Eryudhawan, arquiteto de Jacarta, a capital da Indonésia. Bambang afirma que Sukarno buscou inspiração em suas viagens pelo mundo, ao ver exemplos de arquitetura nacionalista na Índia, na China, na Europa Oriental e Ocidental e nos Estados Unidos.  

"Ele queria elevar o espírito da nação", diz.  

Os monumentos de estilo comunista de Jacarta se sobressaem, especialmente em uma cidade em que o palácio presidencial é um exemplo de arquitetura colonial holandesa e cujos prédios incluem estruturas em ruínas de estilo holandês e chinês ao lado de altas torres de escritórios, tudo em meio a uma expansão desregrada de favelas urbanas.  

O Monumento Nacional de 131 metros fica no meio de uma praça de 74 hectares no centro de Jacarta. Com relevos de aparência socialista em sua base contando a história da rebelião indonésia contra o governo holandês, talvez seja o mais proeminente exemplo de projeto de influência comunista no Sudeste Asiático.  

O Monumento Nacional de Jacarta tem 131 metros 
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A praça em torno dele é chamada de Merdeka, ou Praça da Liberdade, e foi inspirada na Praça Vermelha de Moscou. Ao norte está o palácio presidencial; prédios do governo e quartéis militares ficam dos lados leste, oeste e sul.  

No sudoeste está a Estátua dos Heróis, desenhada e construída na União Soviética por Matvey Manizer, escultor realista-socialista, e seu filho Ossip. Os artistas visitaram o país antes de criar seu trabalho.  

A peça chegou e foi inaugurada em 1963, época em que crescia a importância do Partido Comunista da Indonésia, que acabou banido pelo governo em 1966 e continua proibido até hoje.  

Monumentos

A cerca de 1,5 quilômetro de distância, por uma avenida larga, o Monumento de Boas-vindas mostra uma mulher e um homem fazendo uma saudação. Ele evoca o estilo da escultora russa Vera Mukhina.  

O Monumento de Boas-vindas, um dos vários, de influência comunista, espalhados por Jacarta, na Indonésia 
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Mais ao sul na mesma avenida, perto do estádio financiado pelos soviéticos, está o Monumento para o Avanço da Juventude. Inaugurado em 1971 com a intenção de encorajar os jovens a construir a nova nação, mostra um rapaz musculoso gritando e segurando um prato com chamas. De brincadeira, os expatriados que moram em Jacarta chamam a estátua de 25 metros de "homem da pizza".  

O Monumento ao Avanço da Juventude, também chamado de ‘homem da pizza’, em Jacarta, na Indonésia 

No sul de Jacarta também está a Estátua Dirgantara, conhecida como Patung Pancoran por causa do distrito ao redor. A peça mostra uma figura tradicional indonésia apontando para o local do aeroporto internacional da época, para celebrar o crescimento do setor de aviação do país na década de 1960.  

O empresário indonésio e historiador local Eko Harmanto afirma que os grupos de islâmicos radicais do país não conhecem a história por trás da arquitetura da capital.  

"Eles não sabem muita coisa. Vários monumentos, prédios e infraestrutura foram financiados pelos russos, e todo mundo sabe disso ou deveria saber", afirma ele.  

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Protestos

Analistas dizem que os protestos dos islâmicos linha-dura contra o comunismo na verdade têm como foco o presidente Joko Widodo, que vem sendo impelido a negar acusações anônimas de usuários das redes sociais de que seus antepassados eram simpatizantes do comunismo e membros do banido Partido Comunista da Indonésia.  

A Frente de Defensores Islâmicos, o grupo islâmico mais barulhento, vem exigindo que a Estátua dos Heróis seja derrubada, ecoando os pedidos nos Estados Unidos para que as estátuas dos confederados sejam demolidas.  

"É um vestígio do Partido Comunista da Indonésia e um símbolo de orgulho para aqueles que conseguiram armar os camponeses para se rebelar contra o estado", diz Novel Chaidir Hasan Bamukmin, membro sênior do grupo islâmico, que critica o governo de Joko.  

A demanda, no entanto, não ganhou força. Os monumentos inspirados pelo socialismo permanecem em seus lugares, apesar das posições anticomunistas das forças armadas do país e dos islâmicos – embora em setembro os militares tenham invadido um restaurante de Jacarta que exibiu uma bandeira com a foice e o martelo.  

"Não acho que a geração mais nova vá comprar essa ideia", diz Bambang, o historiador. 

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Os marcos celebram um passado compartilhado do país em vez de uma ideologia em particular, acredita ele, afirmando que o mais famoso monumento da Indonésia é o Borobudur, um templo budista do século IX perto da cidade de Yogyakarta.  

"Ele não tem a ver com o budismo, mas com a nossa tradição", garante.  

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