O grupo islamita Boko Haram reivindicou nesta segunda-feira a autoria dos atentados de domingo contra três igrejas no norte da Nigéria e que provocou a represália de cristãos em uma nova onda de violência que já contabiliza mais de 50 mortos e 150 feridos.
"Alá nos deu a vitória nos ataques lançados contra igrejas (das cidades) de Kaduna e Zaria que provocou a morte de muitos cristãos e membros das forças de segurança", declarou em uma mensagem veiculada na internet Abul Qaqa, porta-voz do grupo islamita.
Ele acrescenta que foram "represálias contra as várias atrocidades cometidas contra os muçulmanos".
"A última contagem nos dá 52 corpos encontrados nas áreas afetadas. Temos mais de 150 feridos", disse um membro da Defesa Civil, sob condição de anonimato. "A maioria das vítimas foram mortas em retaliação", indicou.
De acordo com a polícia, os ataques contra as três igrejas fizeram 16 mortos.
Um jornalista da AFP que acompanhou uma patrulha de soldados nesta segunda-feira pelas ruas de Kaduna viu mesquitas, postos de gasolina, dezenas de veículos e lojas incendiados.
Um toque de recolher de 24 horas foi decretado na cidade.
No exterior, o ministro italiano da Cooperação Internacional, Andrea Riccardi, acusou o Boko Haram de prosseguir com uma estratégia de "extermínio sistemático" da minoria cristã no norte da Nigéria.
"O Boko Haram quer a limpeza étnica no norte e os cristãos são o alvo. Este não é um episódio isolado, mas um extermínio sistemático", declarou o ministro católico, fundador da Comunidade de Sant'Egidio, perto do Vaticano, em uma entrevista ao La Repubblica.
"A estratégia perversa do Boko Haram é provocar uma guerra civil", acrescentou Riccardi, enquanto os parlamentares italianos pediam uma mobilização "para acabar com a caça aos cristãos".
Em Zaria, as explosões tiveram como alvo a catedral católica de Cristo Rei e a igreja evangélica da Boa Nova. Em Kaduna, foi a igreja Shalom afetada nos subúrbios ao sul da cidade de maioria cristã.
Após os ataques, multidões de cristãos irados se envolveram em confrontos contra os muçulmanos em um subúrbio predominantemente cristão da cidade de Kaduna.
Muitas das vítimas sofreram ferimentos com facões e os hospitais estão com falta de sangue para fazer operações, informou um funcionário da Cruz Vermelha.
Uma semana atrás, o Boko Haram anunciou o ataque contra duas igrejas na região central e nordeste da Nigéria, a ação matou quatro pessoas, incluindo o homem-bomba.
Um porta-voz dos islamitas explicou que o grupo queria mostrar que permanecia ativo, apesar da repressão pelas forças de segurança e prometeu mais ataques anticristãos.
O Boko Haram tem multiplicado desde meados de 2009 seus ataques, especialmente em cidades do norte, onde já morreram mais mil pessoas.
A Nigéria, o país mais populoso da África, com cerca de 160 milhões de habitantes, está dividida entre um norte predominantemente muçulmano e um sul predominantemente cristão mais rico graças ao petróleo.