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A Islândia tem uma das taxas mais altas de infecção pelo novo coronavírus por habitante. Com população de 364 mil, o país remoto registrou 1.135 casos da doença - uma taxa de 312 casos confirmados por 100 mil habitantes - e duas mortes. Desses, 198 já se recuperaram.
Por causa de sua pequena população - pouco maior do que a de Vitória, no Espírito Santo - a Islândia costuma ocupar o topo das listas "per capita" entre os países. É a nação com o maior número de autores de livros ou de músicos por habitantes, por exemplo.
A proporção de islandeses infectados é alarmante, mas pode ser explicada também, em parte, pela estratégia de realizar testes em larga escala na população, incluindo em pessoas que não apresentam sintomas. O esforço da Islândia de diagnosticar os casos de Covid-19 de forma abrangente ajuda a entender melhor como o vírus se propaga pela população, como os seus sintomas se manifestam e também permite chegar a uma taxa de mortalidade mais precisa, já que a amostra é maior.
Até esta terça-feira (31), foram testadas 17.904 pessoas na Islândia, o equivalente a 4,9% da população do país. Seria como testar mais de 10 milhões de pessoas no Brasil. A resposta do país difere da maioria das outras nações, que concentram os testes em pacientes de alto risco que apresentam sintomas, em quem teve contato com pessoas infectadas ou em quem voltou de viagem de países afetados.
Os testes são feitos pelo Serviço de Saúde Nacional e pela empresa privada DeCode Genetics. Embora os resultados do país sejam preliminares, e não sejam garantia de que a dinâmica da doença seja a mesma em outros países, já que cada região tem diferentes infraestruturas e estruturas sociais, eles trazem novos conhecimentos sobre a doença.
Os dados no país indicam que cerca de metade das pessoas com resultado positivo para covid-19 não apresentam sintomas. A outra metade apresenta sintomas moderados, disse Thorolfur Guðnason, epidemiologista chefe da Islândia à imprensa.
O resultado corrobora pesquisas anteriores que indicam que pessoas assintomáticas são responsáveis por uma grande parte das transmissões.
Entre os casos positivos na Islândia, até esta terça-feira, 32% estão na faixa de 20 a 29 anos e 40% têm entre 40 e 59 anos. Os pacientes de 60 a 89 anos representam 16% dos casos no país. Para comparação, na Itália, as pessoas com mais de 70 anos representam 35,9% dos casos da doença.
O trabalho também mostra como o vírus sofreu mutações dentro do país. "Encontramos 40 mutações do vírus específicas para a ilha. Encontramos alguém que tinha uma mistura de vírus", disse Kari Stefansson, diretor da DeCode Genetics, ao jornal dinamarquês Information. O homem a quem ele se refere foi infectado por duas variações do vírus, com origens diferentes, ao mesmo tempo.
A Islândia implementou medidas para localizar rapidamente as pessoas que tiveram contato com os pacientes que tiveram testes positivos para o novo coronavírus. Essas pessoas são imediatamente colocadas em quarentena. Nesta terça-feira, 8.879 pessoas estavam em quarentena, em suas casas, e 935 estavam em isolamento, segundo a autoridade de Saúde do país. Entre os pacientes, 35 estavam hospitalizados, 11 em unidades de tratamento intensivo. Ainda, mais de 6 mil pessoas já haviam completado a quarentena.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já recomendou que os países aumentem drasticamente o número de testes para covid-19, incluindo em pessoas sem sintomas, para que a pandemia possa ser combatida adequadamente. A preocupação da OMS é que, com foco dos países nos casos com sintomas moderados a críticos, um número potencialmente grande de casos não esteja sendo detectado.
Medidas para conter o coronavírus na Islândia
Para conter a propagação do vírus, as autoridades islandesas proibiram reuniões de mais de 20 pessoas entre 24 de março e 12 de abril, segundo o site de notícias Island Review. Mercados e farmácias podem ter até cem pessoas no interior do estabelecimento por vez, desde que o espaço permita que os indivíduos mantenham distância de dois metros.
Piscinas públicas, academias, bares, casas noturnas e museus foram fechados e atividades e serviços que exigem contato próximo entre as pessoas estão proibidos, incluindo salões de beleza e clubes de esportes.
Desde 19 de março, todos os residentes da Islândia que entram no país vindos de qualquer lugar do mundo são obrigados a ficar 14 dias em quarentena. O país, que tem uma forte indústria do turismo, fechou as fronteiras para turistas por 30 dias, desde 20 de março. Segundo a imprensa local, a pandemia de covid-19 pode custar à indústria de turismo da Islândia até US$ 1,8 bilhão.
As universidades e escolas de ensino médio estão fechadas na Islândia, segundo o Island Review. No entanto, escolas primárias e pré-escolas permanecem abertas, com restrições como limite de tamanho das salas e espaço entre alunos.
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