Londres O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, anunciou ontem que deixará o cargo em menos de um ano, mas recusou-se a fixar uma data exata. Blair vinha sofrendo forte pressão do seu partido, o Trabalhista, para dizer quando deixará o cargo que ocupa há quase dez anos.
O estopim do anúncio foi uma briga pelo poder entre Blair e o ministro das Finanças britânico, Gordon Brown, provável sucessor do premier. A disputa culminou com acusações de chantagem da parte de Blair e uma feroz discussão entre os dois na noite de quarta-feira.
Brown exige que Blair saia perto do Natal e que seja formado um gabinete até um novo líder ser escolhido pelo partido. Blair luta para se agarrar ao cargo e impedir a desintegração dos trabalhistas.
Apesar do embate pelo poder, o próprio Brown se viu obrigado a repudiar o movimento de alguns parlamentares que pressionam Blair a deixar o cargo agora. A ação de Brown foi descrita com a palavra "chantagem" por partidários e pelo próprio Blair, para quem Brown estaria orquestrando um golpe.
Downing Street (a residência oficial do primeiro-ministro) afirmou que a renúncia de Tom Watson, assessor do ministro da Defesa, e de seis assessores parlamentares aconteceu com a aprovação de Brown. Os sete abandonaram o governo exigindo que Blair saísse imediatamente.
O grupo de Brown contra-atacou acusando assessores do premier de intimidação aos membros do baixo clero do Parlamento. Como resultado, as chances de uma transição estável e ordenada entre os dois parecem ter ruído.
Os partidários de Blair alegam que Brown exige um endosso do premier à sua candidatura e não aceita um debate fundamental sobre o futuro do Partido Trabalhista.
Blair foi advertido que, se não concordasse com a data e os termos da sua renúncia haveria mais renúncias de membros do alto escalão do governo ainda ontem, uma ação que poderia inviabilizar sua administração.
A visão de que Blair deve deixar o cargo em breve é majoritária entre os trabalhistas. Segundo uma pesquisa da empresa YouGov divulgada ontem, 59% dos membros do Partido Trabalhista querem que Blair renuncie antes de maio.