O gabinete de segurança de Israel decidiu nesta quinta-feira flexibilizar o bloqueio à Faixa de Gaza, após a forte pressão internacional diante do ataque da Marinha israelense a uma flotilha humanitária no dia 31 de maio, que matou nove ativistas turcos, um deles também com cidadania norte-americana. "Concordamos em tornar o bloqueio mais suave para a entrada de mercadorias e expandimos também para materiais visando projetos civis, os quais estão sob supervisão internacional", disse um funcionário do governo, sem especificar que itens integram a lista.

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O anúncio indica que Israel talvez permita que organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), tragam para a Faixa de Gaza materiais de construção, de vital importância para a reconstrução da região, arrasada pela guerra entre os militares israelenses e o Hamas, ocorrida de dezembro de 2008 a janeiro de 2009. O governo de Israel frisou que, apesar da concessão, continuam em vigor os procedimentos para evitar a entrada em Gaza de armas e materiais de guerra. A medida pode significar o fim do cerco que atingiu muito mais fortemente os moradores comuns de Gaza do que seu governantes do Hamas.

Além de aliviar o bloqueio de quatro anos, Israel afirmou esperar que a comunidade internacional "trabalhe pela imediata libertação de Gilad Shalit". O soldado israelense foi capturado por militantes de Gaza em junho de 2006. O bloqueio em Gaza foi imposto após o sequestro de Shalit, mas foi bastante endurecido um ano depois, quando o Hamas tomou o controle completo da Faixa de Gaza.

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Israel tomou a decisão após consultas a autoridades dos Estados Unidos e da Europa uma semana depois de o presidente Barack Obama - cujas relações com o governo linha-dura de Israel têm sido complicadas - chamou o embargo de insustentável e pediu que fosse reduzido.

O enviado para o Oriente Médio, Tony Blair, que ajudou a negociar o acordo com Israel, chamou a medida de "bom começo". A Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Catherine Ashton, disse que Israel deve "se certificar que muitos, muitos mais bens possam chegar a Gaza" e acrescentou que "os detalhes é que importam".

Em Washington, o Departamento de Estado norte-americano saudou "os princípios gerais" do projeto de Israel de aliviar o bloqueio, na expectativa de que a medida melhore as condições do empobrecido território. "Nós saudamos os princípios gerais anunciados mais cedo pelo governo de Israel", disse Mark Toner, porta-voz do Departamento de Estado.

"Eles refletem o tipo de mudanças que temos discutido com nossos amigos israelenses", disse ele, acrescentando que o enviado dos Estados Unidos, George Mitchell, "vai continuar a trabalhar sobre as mudanças nos próximos dias", enquanto permanecer na região. Segundo Toner, o governo Obama quer ver "uma expansão do alcance e dos tipos de bens enviados a Gaza...tendo em vista, obviamente, as legítimas necessidades de segurança de Israel".

Mas o fato de Israel manter o bloqueio naval e não dar indicação de que vá levantar a proibição às exportações de Gaza, muitos palestinos consideraram a medida como cosmética e a receberam com ceticismo e raiva. "Nós queremos um levantamento de verdade, não enganação", disse o legislador do Hamas Salah Bardawil.

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O bloqueio, endurecido três anos atrás depois que o Hamas violentamente tomou o controle de Gaza, devastou a economia do território à beira-mar, eliminando dezenas de milhares de empregos, fechando fábricas e impedindo os habitantes de reconstruir casas e prédios destruídos durante a ofensiva militar israelense contra o Hamas no ano passado, cujo objetivo era interromper o lançamento de foguetes em direção a Israel.

A decisão de Israel e aliviar o bloqueio também reflete o reconhecimento tácito de seus líderes de que o bloqueio fracassou em conquistar seus principais objetivos: enfraquecer o Hamas, impedir a entrada de armas em Gaza e conseguir a libertação de Gilad Schalit, há quatro anos nas mãos do Hamas.

Uma das principais mudanças aprovadas nesta quinta-feira é o fato de que Israel vai permitir a entrada de mais materiais de construção para reparar os danos causados pela guerra, contanto que eles sejam usados em projetos civis realizados sob supervisão internacional. Israel praticamente não permite a entrada de materiais como cimento e aço no território por temer que militantes do Hamas os usem para construir armas e fortificações.

O governo israelense disse anteriormente que estava disposto a permitir a entrada de cimento sob supervisão internacional. Mas foi necessária a intervenção direta do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para a liberação da entrada de cimento para um único projeto de moradia da ONU, após anos de adiamento. Ainda não está claro qual será a extensão do anúncio israelense. "Houve muitas palavras no passado", disse o porta-voz da ONU Chris Gunness. "Precisamos julgar as autoridades israelenses por suas ações, não por suas palavras."

Um oficial militar israelense, que falou em condição de anonimato, disse à Associated Press que Israel iria imediatamente permitir a entrada de todo o tipo de comida e itens doméstico em Gaza. Anteriormente, Israel havia permitido apenas a entrada de uma lista pequena e variável de alimentos.

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Enquanto a medida parece dar mais tempo a Israel para lidar com a comunidade internacional, parece improvável que ela traga mudanças significativas à qualidade de vida em Gaza. A maioria dos alimentos proibidos por Israel já chegam ao território por meio de túneis de contrabando ao longo da fronteira sul com o Egito. A boa notícia é que eles devem ficar mais baratos se entrarem legalmente em Gaza.

Mas o comunicado do governo israelense não menciona o alívio das proibições sobre exportações e importações de matérias-primas necessárias para a indústria. "Esta decisão prova que o cerco fracassou em retirar o Hamas do poder e não atingiu seus objetivos, mas causou danos devastadores à economia palestina legítima", disse Yasser Abdel Baki, atacadista de alimentos de 34 anos, morador da Cidade de Gaza. "Onde está a novidade? Eles podem permitir a entrada de muitos novos itens, mas onde estão os empregos?", questionou Added Salama Alawi, taxista de 55 anos de Gaza.

Também não há informações sobre a quantidade de material de construção que poderá entrar no território ou se Israel, juntamente com o Egito, aliviará o bloqueio na fronteira que tem impedido que os cerca de 1,5 milhão de habitantes de Gaza saiam da região. O Egito relaxou um pouco as restrições nas últimas duas semanas.

Mas Israel sinalizou que não tem a intenção de levantar o bloqueio naval que está no centro das críticas após o ataque à flotilha com ajuda humanitária. Um comunicado do governo diz que Israel "vai continuar seus procedimentos de segurança para evitar a entrada de armas e de material bélico", o que significa que o embargo será mantido, disse um funcionário israelense em condição de anonimato.

Dois navios com medicação para câncer devem partir do Líbano no início da próxima semana, disseram os organizadores da ação. Ele informaram também que 50 mulheres de várias seitas religiosas, de países árabes, da Europa e dos Estados Unidos estarão a bordo Um graduado militar israelense, que falou em condição de anonimato, disse que as embarcações serão interceptadas.

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Turquia

A Turquia irá reduzir ao mínimo os seus laços diplomáticos com Israel se o governo israelense não tomar passos conciliadores, após o ataque à flotilha de ajuda humanitária à Faixa de Gaza. A informação partiu de um diplomata turco e também de uma reportagem publicada nesta quinta-feira no jornal diário Milliyet, um dos de maior tiragem na Turquia.

A Turquia espera que Israel peça desculpas pelas mortes, compense as famílias das vítimas, aceite uma investigação internacional e libere três navios turcos que faziam parte da flotilha humanitária.

"Se esses passos não forem dados, não vai demorar muito tempo para a Turquia rebaixar sua representação diplomática para o nível de 'charge d'affaires' (representação diplomática inferior), de acordo com as diretrizes que nós recebemos", afirmou o diplomata turco.

A Turquia chamou de volta seu embaixador em Israel imediatamente após o ataque, cancelou planos para três exercícios militares conjuntos e disse que os laços econômicos e de defesa seriam reduzidos a um "nível mínimo".

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O ataque levou a uma profunda crise entre a Turquia, único membro muçulmano da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e Israel. Os dois países chegaram a ser aliados próximos quando firmaram em 1996 um pacto militar que atraiu a ira do mundo árabe e do Irã.

De acordo com o jornal turco Milliyet, Ancara irá reduzir sua representação diplomática se Israel fracassar em responder a todas as quatro exigências, mas poderá reconsiderar a medida se parte das exigências forem cumpridas.

O diplomata turco disse que Ancara considera que não serão fechados novos acordos de cooperação com Israel e que os já existentes estão sendo revisados. "Nós estamos fazendo uma avaliação custo-benefício. Contudo, nosso entendimento é que poderemos desistir de certas áreas de cooperação mesmo que isso nos prejudique", ele disse, sem especificar.

A cooperação militar e na indústria da defesa tem sido a força motriz da aliança entre Israel e a Turquia. Empresas israelenses estão entre as principais fornecedoras de equipamentos para o Exército da Turquia.

O governo de raízes islâmicas da Turquia está sob forte pressão para cortar os laços com Israel. "A respeito de acordo comerciais, muitos dos quais estão perto de ser completados, o mais importante é o do avião não tripulado", disse o ministro da Defesa da Turquia, Vecdi Gonul. Ele estava se referindo ao acordo de US$ 183 milhões, pelo qual a Turquia comprou 10 aviões 'drone' (teleguiados e não tripulados) do modelo Heron de Israel Ainda falta Israel entregar quatro desses aviões, algo que deverá fazer no final de junho ou em julho, disse Gonul.

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O Exército da Turquia, que no passado esteve na frente da uma vez florescente relação com Israel, está preocupado que um congelamento total da cooperação militar possa ser muito prejudicial, reportou nesta quinta-feira o diário Taraf.

"O exército está pedindo cautela a respeito do corte dos laços militares, uma vez que existe o risco que Israel não forneça mais as peças necessárias para os caças F-4 e F-5, bem como para os tanques M-60 que foram reformados por Israel", disse a matéria do Taraf.