A área de fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza foi declarada "zona militar fechada" pelo Exército de Israel, informou um porta-voz militar israelense nesta segunda-feira (29).
Com isso, as estradas de uma área distante entre 2 km e 4 km da fronteira ficam fechadas para os civis que não tenham salvo-condutos militares, e só moradores da região podem transitar por lá. Jornalistas também são banidos.
A justificativa é que militantes palestinos podem retaliar, lançando foguetes, os ataques israelenses ao território ocorridos desde sábado. Esse tipo de medida costuma prenunciar o lançamento de operações terrestres. O Exército de Israel concentra tropas na fronteira desde o início da ofensiva aérea.
As operações aéreas israelenses em Gaza já mataram mais de 310 pessoas e deixaram ao menos 1.400 feridos, segundo Muauiya Hasanein, chefe dos serviços médicos palestinos. A Agência da ONU para refugiados disse que 51 dos mortos são civis, em uma estimativa conservadora.
Ao mesmo tempo, segundo testemunhas, os bombardeios a alvos do Hamas na Faixa de Gaza continuaram nesta segunda, matando pelo menos sete palestinos, sendo seis crianças, segundo fontes médicas.
Um ataque na cidade de Jabaliyah, na zona norte do território palestino, matou quatro meninas, com idades entre um e 12 anos, da mesma família, que morava perto de uma mesquita que foi alvo dos ataques.
Outros dois menores faleceram em uma ação em Rafah, sul da Faixa de Gaza. O sétimo morto era um ativista do Hamas. Um avião israelense bombardeou a Universidade Islâmica de Gaza, um dos redutos do Hamas, sem deixar vítimas, disseram testemunhas. Aviões de guerra bombardearam a sede do Ministério do Interior em Gaza, segundo fonte palestina.
Por outro lado, o lançamento de um foguete palestino matou um homem insraelense na cidade de Ashkelon, no sul de Israel, segundo autoridades locais. No sábado, uma mulher morreu e quatro pessoas ficaram feridas na queda de foguete sobre casa em Netivot.
Guerra sem trégua
O ministro israelense da Defesa, Ehud Barak, disse ao Parlamento nesta segunda-feira que Israel está comprometida em uma guerra "sem trégua" contra o Hamas na Faixa de Gaza.
Não temos nada contra os habitantes de Gaza, mas estamos comprometidos em uma guerra total contra o Hamas e seus aliados", declarou Ehud Barak.
"A contenção que temos observado é uma fonte de força. Lutamos com uma vantagem moral. Eles disparam contra civis deliberadamente. Nós encurralamos os terroristas e evitamos, na medida do possível, atingir civis quando a gente do Hamas atua e se esconde intencionalmente em meio à população", acrescentou.
Já o negociador chefe palestino, Ahmed Qurie, disse que o processo de paz patrocinado pelos EUA está suspenso por causa das ofensivas em Gaza. "Não há negociações e não há maneira de haver negociações enquanto estivermos sendo atacados", disse a jornalistas.
A operação "Chumbo endurecido" é a mais violenta pelo menos desde a ocupação israelense dos territórios palestinos, em 1967.
A tensão cresce na região desde o fim, em 19 de dezembro, da trégua de seis meses entre Israel e o Hamas na região. O frágil cessar-fogo foi rompido unilateralmente pelo Hamas. Nos dias seguintes, houve ataques com foguetes palestinos a Israel, seguidos de ameaças de reação israelense, até o ataque iniciado no dia 27.
O enviado especial da ONU para o Oriente Médio, Robert Serry, disse à AFP que Israel permitiu, neste domingo, a passagem de 21 caminhões com utensílios médicos e grãos para a população de 1,5 milhão de pessoas do empobrecido território palestino.
Holocausto
O porta-voz do Hamas, Fawzi Barhum, acusou Israel de "cometer um Holocausto aos olhos do mundo inteiro, que não mexeu um único dedo para evitar a ofensiva".
"A resistência palestina se reserva o direito de responder a essa agressão com operações de mártires", ou seja, atentados suicidas, anunciou o porta-voz.
Reunido em caráter de urgência, o Conselho de Segurança da ONU pediu na manhã de domingo o fim imediato de todas as atividades militares na Faixa de Gaza e exigiu que todas as partes enfrentem a crise humanitária no território.
Pressão internacional
No Egito, o chanceler Ahmed Abul Gheit afirmou que seu país está tentando obter um cessar-fogo entre Israel e o Hamas e acusou o movimento palestino de impedir a transferência de centenas de feridos para o território egípcio. Segundo testemunhas, na manhã de hoje, nenhum ferido de Gaza havia entrado no vizinho Egito.
O Crescente Vermelho (a Cruz Vermelha nos países islâmicos) do Irã informou que enviará dois aviões com ajuda humanitária para Gaza através do Egito. Na Líbia, a Fundação Kadhafi divulgou a criação de uma ponte aérea para a retirada dos feridos palestinos.
Na ONU, uma declaração não vinculante, sem o mesmo peso de uma resolução, pede "o cessar imediato de toda violência" e, às duas partes, que "interrompam imediatamente todas as atividades militares".
O comunicado, um raro exemplo de unidade sobre o tema de Gaza, foi aprovado após cinco horas de consultas a portas fechadas, a pedido da Líbia, único membro árabe do Conselho, mas não menciona diretamente Israel, nem o Hamas.
Papa condena a violência
O Papa Bento XVI também condenou a violência entre Israel e os palestinos do Hamas, pedindo "um ímpeto de humanismo e de sabedoria por parte de todos os que têm alguma responsabilidade nesta situação trágica no Oriente Médio".
"Rogo pelo fim desta violência, que deve ser condenada em todas as suas manifestações e pelo restabelecimento da trégua na Faixa de Gaza. Peço um ímpeto de humanismo e de sabedoria por parte de todos os que têm alguma responsabilidade nesta situação", afirmou, durante a benção dominical do Angelus.
O presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, monitora a situação na Faixa de Gaza, informou uma porta-voz no Havaí, onde o futuro chefe de Estado americano passa as festas de fim de ano.
O líder do Hamas no exílio, Khaled Mechaal, pediu aos palestinos que iniciem a terceira Intifada contra Israel e que cometam atentados suicidas.
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