O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quinta-feira (13) que Israel e os Emirados Árabes Unidos fecharam um "acordo de paz histórico" para normalizar as relações entre os dois países do Oriente Médio.
Segundo comunicado conjunto divulgado por Trump, delegações de Israel e dos Emirados Árabes Unidos vão se reunir nas próximas semanas para assinar acordos sobre investimentos, turismo, voos diretos entre os países, segurança, telecomunicações, tecnologia, energia, saúde, cultura, meio ambiente e até o estabelecimento de embaixadas recíprocas. Também devem cooperar na luta contra a pandemia de Covid-19.
"A normalização das relações e a diplomacia pacífica vão aproximar dois dos mais confiáveis e capazes parceiros da América na região", diz o comunicado conjunto assinado por Trump, pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu e pelo Sheikh Mohammed bin Zayed Al Nahyan, príncipe herdeiro dos Emirados Árabes Unidos.
Sob o acordo, Israel suspenderia a declaração de anexação de partes da Cisjordânia e trabalharia para expandir suas relações com países árabes - com o interesse de frear a expansão da influência do Irã na região. O comunicado conjunto afirma que "Israel e os Emirados Árabes Unidos compartilham uma perspectiva semelhante em relação às ameaças e oportunidades na região, bem como um compromisso comum de promover a estabilidade por meio do envolvimento diplomático, maior integração econômica e coordenação de segurança mais estreita".
O ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz, disse que o "acordo demonstra a aliança entre os países da região que estão interessados na prosperidade e estabilidade regional e enfatiza a ambição eterna de Israel pela paz com seus vizinhos".
"Hoje uma nova era começou nas relações entre Israel e o mundo árabe", resumiu o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, em entrevista coletiva transmitida pela televisão.
"É um avanço significativo nas relações árabe-israelenses que reduz as tensões e cria uma nova energia para uma mudança positiva", afirmou Yousef Al Otaiba, embaixador dos Emirados Árabes Unidos nos EUA, em comunicado.
Mohammed bin Zayad disse no Twitter que Israel concordou em suspender os planos de anexação na Cisjordânia. Porém, um parlamentar do Likud, partido de Netanyahu, disse em seguida que Israel não desistiu da ideia. Segundo a imprensa israelense, o tema será esclarecido pelo primeiro-ministro em coletiva de imprensa ainda nesta quinta-feira.
Este é o terceiro acordo que Israel fecha com um país árabe desde a sua criação, em 1948. O primeiro foi assinado com o Egito, em 1979, e o segundo com a Jordânia, em 1994.
Segundo Trump, o acordo, batizado de Abraham Accords, vai ser assinado oficialmente nas próximas semanas na Casa Branca, com delegações de Israel e Emirados Árabes Unidos.
Ponto para Trump
Além de ser histórico para o Oriente Médio, o acordo é uma vitória para o presidente americano Donald Trump, que vê agora os primeiros resultados concretos de seus esforços ao elaborar um plano de paz para a região.
"Estamos trabalhando nisso há muito tempo. Foi um trabalho de amor para muitas pessoas nesta sala, e muitas delas amam Israel, e muitas delas amam o Oriente Médio e amam os países de que estamos falando", disse Trump no Salão Oval da Casa Branca nessa quinta-feira.
Trump também aproveitou a ocasião para fazer campanha. Disse que, se for eleito para o segundo mandato em novembro, o Irã vai voltar à mesa de negociação para fechar um novo acordo nuclear. "Eu direi isso - e posso dizer muito publicamente. Que se eu ganhar a eleição, farei um acordo com o Irã em 30 dias e o farei muito rápido. Eles estão morrendo de vontade de fazer um acordo, mas preferem negociar com o sonolento Joe Biden do que conosco".
Até mesmo o adversário de Trump na corrida eleitoral reconheceu a importância do acordo firmado nesta quinta-feira. O democrata Joe Biden disse que a "oferta dos Emirados Árabes Unidos de reconhecer publicamente o Estado de Israel é um ato de estadista bem-vindo, corajoso e extremamente necessário". Biden afirmou que a anexação da Cisjordânia por parte de Israel seria um golpe mortal para a causa da paz na região e que, por isso, não apoiará essa ação israelense caso seja eleito.
Repercussão no mundo árabe
O grupo terrorista Hamas, que controla parte da Faixa de Gaza, disse que o acordo é "uma punhalada" dos Emirados Árabes Unidos "nas costas do nosso povo", os palestinos. Um comunicado divulgado pelo porta-voz do Hamas, Fawzi Barhoum, afirma que a normalização das relações entre os dois países vai encorajar Israel "a cometer mais crimes e violações dos direitos do nosso povo e seus locais sagrados".
A Jihad Islâmica, que também atua na Faixa de Gaza, disse que a normalização das relações com Israel - usando o nome do país entre aspas por não reconhecê-lo - é um ato de submissão e que "não vai mudar os fatos do conflito".
O presidente palestino Mahmoud Abbas, que rompeu acordos de segurança com Israel e EUA em fevereiro por causa dos planos israelenses de anexação da Cisjordânia, emitiu uma condenação forte contra o vizinho árabe e instruiu o embaixador palestino nos Emirados Árabes Unidos a retornar imediatamente. Um porta voz da Autoridade Nacional Palestina disse que o acordo era uma traição por parte dos Emirados.
O presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, deu boas-vindas ao acordo, dizendo que valoriza esforços cujos objetivos sejam levar prosperidade e estabilidade para a região.
Repercussão internacional
O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterrez, celebrou o acordo entre Israel e Abu Dhabi, dizendo que apoia "qualquer iniciativa que possa promover a paz e a segurança na região do Oriente Médio".
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, afirmou que a normalização das relações entre os dois países é uma notícia extremamente boa.